domingo, 27 de julho de 2008

Da série Diálogos Interessantíssimos II

- Tou me sentindo agoniada, estranha, uma gastura no coração, sei lá.
- Como assim?
- Igual a um pacote de algodão.
- O que você quer dizer com pacote de algodão?
- Ninguém sabe o que é um pacote de algodão.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Carta do dia: 10 de Espadas

Momento decisivo!

O 10 de Espadas emerge como arcano de conselho neste momento de sua vida, Amanda, sugerindo que é chegada a hora de agir de maneira decisiva, ainda que cortante e antipática, para resolver as confusões e solucionar as questões. A oportunidade para colocar um ponto final nas questões que tanto lhe incomodam surgirá. Não a desperdice “tendo pena” dos outros. Faça o que deve ser feito e assim evitará dores maiores, não apenas para si, como também para os outros. Nesse momento, quando mais você se preocupar em ter uma imagem boazinha, pior será para todos. Muitas vezes é fundamental agir de uma forma cortante, a fim de que os problemas não piorem.

domingo, 20 de julho de 2008

bandeira branca, trégua, tempo técnico

qualquer coisa que me faça parar um pouquinho. Olheiras, olhos secos, horas de seriados no meio das madrugadas e dor de cabeça no outro dia são ótimas metáforas pra ilustrar esses dias. E como se não bastasse, ainda ter que passar horas e horas correndo pelos cantos. Isso é coisa pra atleta e, como todo mundo sabe, a pessoa mais sedentária do mundo é essa que vos escreve aqui. Cansada é pouco, eu estou exausta. Pode ir saboreando sua vitória porque se isso foi um jogo, você ganhou: eu perdi a direção. Se foi um sonho, se foi o céu, eu não sei. Eu, que não sei perder, perdi o sono na escuridão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

I still got sand in my shoes

Você aprisiona, eu liberto. Você adormece as paixões, eu desperto. Você acorda cedo, trabalha e eu sonho até as onze com coisas banais. Você adivinhou meus segredos e até a data do meu aniversário quando eu pensava ter tudo muito bem escondido dentro do meu vestido e das convenções de não mostrar muito de si tão rapidamente. Você me fez baixar a guarda e colocar minha armadura de ferro dentro do armário quando, ao mesmo tempo, eu abastecia meu estoque de espadas novas. Eu te libertei quando o que eu mais queria era te prender e você me prendeu quando o que eu mais eu precisava era estar solta. Você cantou várias músicas pra mim quando eu queria estar em silêncio. E eu acabei entrando no teu ritmo. Você me desenhou quando a palavra ficou com sono e foi dormir. Você me chamou pra tua vida como uma criança chama o carrinho do sorvete e pede por um picolé de fruta no alto verão. Você me deu compreensão quando eu nem pedia pra ser entendida e quando eu tava começando a te compreender, você correu. Logo de mim que sempre fujo e deixo tudo pra trás. Eu, que sempre corri, fiquei parada dessa vez. Sim, eu já cortei os fios que me ligavam a você, mudei de telefone, de "alvo" e até de cabelo, mas sempre volto ao mesmo ponto. Aquele ponto em que você continuou e eu parei, e que eu até hoje não sei precisar aonde foi. Eu, que queria tirar umas férias de amar, acabei pegando um avião pra longe, muito mais longe do que eu queria ir. Japão? Austrália? Antártida? Antes fosse. Aí é só arrumar as malas e voltar pra casa correndo. A viagem que eu fiz é sem passagem de volta, é pra ficar.

domingo, 13 de julho de 2008

(sem título)

O sapato vermelho não lhe parecia mais tão atraente naquela noite, não sabia se ele na verdade nunca fora ou se era ela que já não agüentava mais olhá-lo. Piscou os olhos, levantou-se e pôs-se a passar lápis preto nos olhos já vermelhos da água que se derramava por eles.
- Por que você não pára de botar esse negócio pelo menos enquanto a gente conversa?
- Conversar o quê? Me parece que você já disse tudo o que queria. Agora me deixa me maquiar em paz.
- Então, é assim que vai terminar?
- Eu é que deveria estar perguntando isso a você! Por mim, você estaria agora na primeira fila me esperando e me oferecendo seus olhos verdes e, mais tarde, suas mãos, eu e você. Não me olhe assim: já me vesti toda, botei maquiagem, não posso borrar de novo. Porra de lápis que não funciona! Pára que eu preciso secar meus olhos! Vai, sai. Mas saiba que se sair por aquela porta agora, é pra não voltar nunca mais.
- Não é assim que funciona, Ana. Você está muito nervosa! Por que você não larga esse disfarce, essas pinturas todas, e me diz o que você tá pensando, sem ficar só me mandando ir embora logo?! Me diga o que você está pensando... Uma coisa como o que a gente tem não pode terminar assim, mal entendida...
- E que coisa é essa que eu não vejo? Eu não sou idiota: eu já passei por muita coisa e eu sei que o que fica nessa vida é só o que a gente pode ver. É pra isso que a gente tem olho. Pra ver o que existe e ter aquilo pra sempre, o que você vê é seu, ninguém tira. Assim como o que você toca. E eu não consigo te tocar, nunca consegui, eu é que sempre fui tocada por você. E me acostumei a isso, nunca precisei mudar essa situação. Você foi o único homem pra quem me deixei ser assim. E o único que eu amei. Ironicamente, foi justamente o único que nunca me amou.
- Isso não é verdade, Ana. Eu te amei desde a primeira vez que eu te vi lá naquele bar, com aquela peruca loira que eu roubei do teatro pra que eu só pudesse te ter daquele jeito, com aquele rosto. Eu te amei desde aquele dia. E te tirei de lá, quis te guardar só pra mim e eu já tinha dito que ia te dar tudo. Mas você correu de mim, lembra? Preferia a sua vida, os seus movimentos, o seu mundo de perucas, brincos, sapatos, homens...
- Cala a boca! O único homem que eu tive e tenho na minha vida é você! Você sabe disso, não queira me culpar por seu ciúme doentio, por sua insegurança de menino mimado que dormia com a mãe até os doze anos! Você nunca me amou: eu era mais um brinquedo como aqueles que você ganhava do seu pai quando ele voltava de viagem e que você colocava na estante assim que ganhava outro. E é exatamente isso que você quer fazer agora: você não tem coragem de me jogar no lixo, prefere me colocar na estante pra me ter quando quiser. Mas eu não: eu não sou dessas. Eu respiro, meu coração pulsa, acelera, se acalma. Eu nunca quis atenção de uma criança: o que eu mereço é amor de homem. Isso aqui é a minha vida, mas você sou eu. Depois que eu te conheci, até a dança ficou diferente, novos passos. Eu sei que eu sempre fui a estrela da noite, a mais bonita, a melhor em tudo e pra todos, menos pra você. Você me desarmou, roubou meus sapatos, minhas meias, jogou uma pedra no vidro que eu segurei a vida inteira. E pra você, eu era apenas a dançarina mais bonita de toda cidade e que por isso ia ficar linda decorando seu quarto. E não venha me dizer que eu fico ainda mais bonita chorando porque eu vou chorar ainda mais e eu não posso chegar lá fora assim. Não. Já disse, não quero sua piedade nem sua vergonha: se é assim que você se sente, vá embora. Sai.
- Ana, dez minutos, palco principal. Está pronta?
- Sim, quase. Está vendo? Sai, teu tempo acabou.
- Ana... se você se sentia assim porque não foi embora comigo e deixou tudo isso pra trás? E saiba que pra mim você não era só mais um carrinho da minha coleção, não. E era justamente por isso que eu te queria só pra mim.
- Ah, então como você não conseguiu me ter como queria, você simplesmente decidiu me deixar por um tempo, pra voltar quando estivesse enfiado num casamento com alguma mulher que fosse exclusiva e que pertencesse ao seu mundinho? Eu não vou amar um idiota mesmo que já ame! Prefiro amar todos esses homens que me amam sem amor nenhum do que amar alguém que pensa que amar permite a você colocar o outro numa fôrma de gelo!
- Você não entende, a Gabriela tá grávida de um filho meu, eu não posso continuar te vendo! Pronto, falei. Eu não queria ter que te contar isso, mas você me obrigou!
- Filho da puta! Você ia me deixar e nem ia me dizer o real motivo! Tá me deixando só porque vai casar, porque vai ser pai e constituir uma família linda e feliz, mas não percebe que eu é que te amo e eu sou a única que pode te fazer um homem de verdade! Sai da minha frente. Nojento! Falso!
- E você queria o quê? Que eu me casasse com você e com essa vida que você leva ? O que eu ia dizer à minha família, aos meus amigos quando perguntassem quem era a minha mulher?
- Você deveria dizer exatamente isso: essa é a minha mulher. Minha e de mais ninguém, sem importar o fato de que esteja dançando todos os fins de semana pra outros tantos homens. Mas, agora o máximo que você pode dizer é que é um covarde, um canalha! E o que é que tem a minha vida? Pois saiba que eu prefiro mil vezes levar a vida que eu levo do que qualquer outra, inclusive a sua... rico, bonito e covarde! Fraco. Teve que sair do castelo e vim até aqui, o submundo, pra encontrar amor de verdade porque no seu mundinho as mulheres só querem o seu nome e seu dinheiro!
- E você não quer dinheiro não? Você fala como se prostituta não vivesse do dinheiro de homens como eu...
- Tira a mão de mim agora! Sai daqui! Sai!
- Calma, Ana, calma, você tá me machucando! Eu estou tentando conversar, Ana! Acredite em mim, eu gosto de você, mas ponha-se no meu lugar. Eu não tenho escolha, não posso largar minha vida toda pra ficar com você! Vamos nos resolver como duas pessoas civilizadas... você tá louca? Você acha que pode cuspir assim na minha cara? Quem você tá pensando que é? Eu não vou mais falar: gente como você não entende a linguagem das palavras. Eu tentei.
- Você é muito pior: não entende a linguagem do amor. Não vai aprender porque já tá sujo demais da graxa desse mundo imundo. Você é um imundo. Você é uma fruta que já tá com o miolo podre. Eu tenho vergonha de te amar porque isso me contamina também. Mas eu já comecei a te botar pra fora e vou te cuspir até o último pedaço. Aliás, vou cuspir só o que é parte minha que gosta de você porque de você não tem nada em mim pelo simples fato de que você nada me deu. Nesse momento, eu só sinto vergonha de te amar.

Ele, então, limpou os sapatos perfeitamente engraxados no carpete e bateu a porta como filho que sai da casa dos pais: pra nunca mais voltar.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Desde criança, eu sempre ouvi dizer que amor e ódio são dois sentimentos muito próximos, seja na intensidade, seja no número de letras, seja na classificação gramatical, seja no estrago que deixam na gente. Sim, porque um não existe sem o outro e é inconcebível o surgimento de qualquer paixão sem esses dois elementos. É praticamente a cadeia alimentar dos relacionamentos: se um membro entra em extinção, todo o ecossistema goes down right away. Tiro e queda, assim como no meio animal. A pergunta é: como isso pode acontecer? Existe algum ponto crítico a partir do qual o amor vira ódio assim como água vira vapor a 100 ºC? A verdade é que eu não sei e provavelmente nunca vou saber. O que eu sei é que eu cansei dessa história de odiar você. Te odiar é a coisa mais exaustiva que eu venho fazendo em muito tempo e eu estou realmente exausta. Cansei de te chamar de burro, de até hoje não entender o que aconteceu, de dar murros na tua foto, de escrever mil coisas que eu sei que não vou te mandar nunca por um motivo ou outro. Cansei. Cansei mesmo, joguei a toalha. Chega de ser atriz. Eu não te odeio ok? Nem um pouco e esse é justamente o meu maior problema. A falta de um ódio genuíno e permanente por você. Eu já tentei, menti, dissimulei, ri do que não tinha graça e até correr, literalmente, de você eu corri. Sim, já te xinguei e amaldiçoei o dia em que te conheci, e fiz isso num acesso de raiva, de ódio, é verdade. Mas não te odeio. Nem me odeio por não te odiar também. O que eu odeio é o fato de você não perceber que te odiar é, e seria em qualquer futuro pelos próximos 10 anos, uma tarefa impossível pra mim. É claro que isso não me impede de ter impulsos assassinos de vez em quando ou de ter que me segurar pra não te dar logo três tapas - Pá! Pá! Pá! - e pronto. Mas também não alivia o que eu sinto. Te odiando, te gostando, não faz a menor diferença: eu estou pensando em você do mesmo jeito. Te gostando, te odiando: você não está comigo anyway. O que me resta? Estar apaixonada por você and that's all. Fecha a conta e passa a régua, amiga, porque aí é caixão e vela preta.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

há folhas no meu coração, é o tempo.

E o tempo se rói com inveja de mim, me vigia querendo aprender como eu morro de amor pra tentar reviver. No fundo, é uma eterna criança que não soube amadurecer; eu posso, ele não vai poder me esquecer.