domingo, 29 de março de 2009

deny, deny, deny

Sabe o que te mata? É que você só descobriu o quanto gostava dele quando acabou, ela disse enchendo a xícara de café. Disse assim sem perceber, quase como quem pergunta se você quer que passe o pão. Disse e me olhou, esperando alguma resposta, porque ela já sabia que eu era daquelas que tinha resposta pra tudo, mesmo pra o que nem era pergunta. Oxe, sai daí, eu tô ótima, murmurei com a boca ainda meio cheia de bolacha, eu tô ótima. Peguei meu copo de suco e fui pra sala porque já tava na hora daquele programa a que eu assistia todo domingo de manhã enquanto lia só as seções que me interessavam no jornal. Quando dei o primeiro gole, pensei logo que aquela manga não chegava nem aos pés daquelas que você trazia da casa da sua avó e quis parar de tomar, mas mesmo assim continuei bebendo porque não ia desperdiçar um copo inteiro de suco e, além do mais, eu tô ótima, né? Mãe, não compra mais esse suco não, ele é meio ruinzinho. O relógio marcou 9 horas. Pronto, a partir de agora, nada me distrai dessa televisão, nada. Nem ninguém. Era um desses programas de viagem típicos de domingo, o episódio de hoje tinha sido gravado em uma cidade longe, e eu não pude deixar de lembrar que você me contou que tinha visitado esse lugar uma vez, há uns anos. Maldito vício esse teu de viajar tanto, não para quieto em canto nenhum. Eu me lembro até que você me mostrou uma lembrança que trouxe de lá – será que você ainda tem esse costume de trazer algum objeto típico dos lugares por onde passa? Se tiver, já deve ter tido que colocar outra prateleira no quarto pra colocar tuas bugigangas, porque você já viajou, no mínimo, umas quatro, cinco vezes depois que a gente acabou, não foi? Mudei de canal pra ver se o pensamento também mudava quando eu apertava o botão. A televisão dizia:

- Você sabia que o sol tem som?
- Como assim?
- Foi descoberto que o Sol vibra como um instrumento musical gigantesco, com notas e frequências bem-definidas.

Eu não sei porque, mas eu tenho certeza de que você saberia disso. Não só saberia, como ia me contar numa de nossas conversas cotidianas e ia me fazer ficar com a maior cara de boba do mundo olhando pra você e me perguntando como você sabia tanto sobre tantas coisas. E falando sobre coisas que ninguém sabe, eu preciso confessar que também me lembrei de você quando, um dia desses, passei num daqueles carrinhos que vendem cd pirata no camelô e comprei o cd de um cantor de um ritmo ridículo que nem sequer existe, só porque ele tinha o teu nome. Pior: eu vim o caminho inteiro querendo ouvir o cd só pra comprovar que você não tinha nada a ver com esse cara e pra me convencer de que todas as coisas ruins que me falavam de você eram mentira porque você é muito melhor do que essa gente que deve mesmo é escutar esse cantor trash que tem o nome igual ao seu. É lógico que logo depois eu joguei o cd no lixo, mas não foi pra não sentir saudades não, até porque eu tô ótima, foi só pra evitar gracinhas do meu irmão sobre a semelhança entre os nomes. Melhor assim, você lembra bem como meu irmão é pentelho quando quer ser, né? Eu sei que você sabe, mesmo você fingindo que achava ele o melhor menino do mundo só pra ele te dar a vez no Guitar Hero ou te dar um pedaço daquele chocolate que ele trazia do colégio. Eu sei. Filha, me passa o controle da TV, por favor? Eu tô ótima, mãe, já falei, me deixa!

quarta-feira, 25 de março de 2009

...

Tirou um malboro do bolso e perguntou: tem fogo? Antes que eu respondesse, ele baixou e levantou rapidamente os olhos; parecia ter ficado surpreso com alguma coisa no meu rosto. Você não fuma não, né? Desculpa aí. Fiquei intrigada com aquela conclusão do nada. Como você sabe? Tô errado? Não, eu não fumo mesmo. Mas como você descobriu antes de eu responder? Achou meus dentes muito brancos, foi? Não, não pode ter sido, eu nem cheguei a abrir a boca. E outra: eu faço clareamento, não são brancos assim por não fumar. Ele riu largamente e disse: clareamento é? Eu só posso dizer que foi muito bem feito, teus dentes são bonitos. Ah, brigada. Mesmo assim, não foram eles que me disseram que você não fumava. Foi alguma coisa que eu vi em você, acho que foi alguma coisa no teu olho, ou algo parecido, não consigo explicar direito. Você tá me saindo espertinho demais pro meu gosto... quando vê isso, você tava me observando há um tempão e, por ver me bebendo sem acender nenhum cigarro num longo espaço de tempo, deduziu que eu não fumava. Aí, veio com essa historinha de pedir fogo só pra puxar assunto comigo, eu já conheço muito bem esses truques de homem, baby. Você se acha, menina, disse com certo deboche aquele cara que só agora eu via estar de blusa preta e calça jeans rasgada na barra, mexendo a cabeça de um lado pro outro como quem diz tsc, coitada, poor little girl. Me acho nada, só tô bêbada e cansada demais de caras como você. Caras como eu? Se você me conhece tanto a ponto de estar cansada de mim, deve saber meu nome, profissão, onde eu moro, etc. Diz aí. Até isso eu já conheço, essa coisa de “eu sou diferente de todos os homens que você já conheceu, me deixa te mostrar”, isso não cola comigo, eu não sou fácil de me deixar levar por esse papinho furado. É por isso que tá sozinha, embriagada, às 4 horas da manhã, e discutindo com um cara que acha que conhece sem nunca ter visto na vida. E outra: eu nunca disse que era diferente de todos os outros. Sim, eu tô sozinha mesmo, eu sou sozinha, e o que você tem com isso? Você também não me conhece. Tem razão, se eu conhecesse, jamais te deixaria chegar a esse estado. Que estado? Olha, tem gente muito pior do que eu pra você ir importunar nesse bar. Sai daqui, pára de me confundir o juízo, vai. Só saio se você sair junto. Quê? Eu não vou sair nem tão cedo daqui. Nem eu. Você acha que tem o direito de me obrigar a ficar na sua companhia o resto da noite? E quem disse que você vai ficar na minha companhia? Ah, é? Ótimo, vou me livrar de você. Vai mesmo, porque eu tô indo ali no banheiro e não sei se volto. Vai logo, pára de ficar falando besteira então. Porque você está tão agoniada? Tem tanto medo assim de ficar perto de mim, é? Eu não sei porque eu ainda estou falando com você. Quando você soma bebida aos meus olhos castanhos e minhas frases de efeito, o resultado esperado é esse, não posso fazer nada. Eu devo estar muito bêbada mesmo pra rir de uma coisa como essa, ai ai. E sabe o que é pior? Essa é minha primeira risada numa semana inteira. Acredite ou não, eu sei. Acredite ou não você também, eu sei que você sabe, só não sei como, assim como ainda não sei como você sabe de tanta coisa que eu nunca te disse na vida. Aliás, eu nunca nem te vi na vida. Nem eu mesmo sei como é isso, menina, eu só sei e pronto. O que eu sei é que isso aqui tá ficando demais, eu vou embora. Fica, vai já já. Se eu ficar, você me conta como descobriu que eu não fumava? Não. Ah, então sai da frente e me deixa. Não, isso nunca mais.

sexta-feira, 20 de março de 2009

(im)paciência

A gente não vive sem ter paciência, né? Tudo mentira, lorota, conversa fiada. Se a gente não vivesse mesmo sem paciência, eu já estaria debaixo de sete palmos de terra ou no fundo do mar, como preferirem. Quem me conhece sabe que impaciência é meu nome do meio e que ansiedade começa com a mesma letra que o meu nome por mais do que mera coincidência. Aí, parece que apesar de toda agonia do mundo ao meu redor, a coisa que mais cobram de mim é ser paciente, aprender a esperar. E agora? Vou ali na esquina comprar 200 gramas de paciência? Bato na porta da vizinha pra saber se ela tem pra me emprestar? Faço um curso de um mês no SENAC? Se alguma dessas coisas fosse possível, eu juro que faria. Porque ser impaciente cansa mais do que correr da minha casa até Olinda sem parar. Cansa, faz os cabelos caírem, a fome aparecer nas horas mais impróprias e pele do meu rosto enrugar um pouquinho mais a cada dia. Aí eu começo a pensar em como ser mais calma, adotar a paciência como um estilo de vida, mas logo depois eu descubro que a impaciência é mais do que uma questão de momento na minha vida: ela sou eu. Eu sou, sim, impaciente, agoniada, inquieta e nunca, jamais consigo dormir antes de passar pelo menos 10, 15 minutos pensando sobre a minha vida toda e tentando desacelerar pra poder de fato pegar no sono. Eu finjo ter paciência que é pra não ter que encarar o fato de que o mundo é de quem sabe esperar e que, se eu continuar assim, nunca terei nem um pedacinho dele. Fuen.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Diálogos Interessantíssimos VIII

- Meninas, vocês estão com cara de cansadas hoje... O que houve? Nem precisa dizer. Isso é homem, né?
- Antes fosse esse cansaço que você tá pensando...
- Não, não, eu sei que não é. Esse cansaço que você pensou que eu tinha pensado é coisa boa, tira as olheiras, melhora a postura, renova a pele e não deixa com essas caras de quem comeu e não gostou, não. Eu falo é de outro cansaço. É aquela coisa: a gente nunca tá feliz com o que tem. Se você tem um homem, cansa; se não tem, cansa. Se tá perto, cansa. Se passa muitos dias longe, cansa; Se ele te traz um chocolate, cansa e tudo o que você mais quer é comer um sanduíche; Se ele te traz sanduíche, você fica tão cansada que nem tem forças pra fingir que gostou...
- Agora olhe pra mim e me diga o que acontece quando você tem dois.
- Aí cansa porque não pode, minha filha.
- É, mas sabe o que é pior?
- O quê?
- Desse mal eu nunca quero estar descansada.

quarta-feira, 18 de março de 2009

(not) easy to figure out

If my words confuse you,it is to make you understand me

segunda-feira, 16 de março de 2009

videogame e freios de bicicleta

Eu nunca consegui te contar o quanto eu te amava. Falando assim, tão cinicamente, isso parece muito triste, não é? Não, eu sinceramente não acho. Porque não era o fato de eu não te dizer que me fazia te amar um pouquinho menos ou não te amar at all, muito pelo contrário: isso era justamente o que mais afirmava o meu amor por você. Se você soubesse a quantidade de vezes que eu prendi o cabelo num coque feioso usando um lápis todo mordido, coloquei aquele meu pijama ridículo de corações e aquela clássica calcinha velha e furada e fiquei na frente do espelho, exatamente como quando eu fazia quando tinha 12 anos, ensaiando aproximadamente 150 palavras pra te dizer por segundo, você até chegaria perto de entender o que eu sentia. Mas, como eu disse, você nunca soube disso. Aliás, você nunca soube de nada, porque quanto mais eu gostava de você, menos eu te procurava, menos eu queria estar na sua presença. Eu preferia te ver de longe, sem você nem imaginar. Como quando eu te via passar por mim na faculdade enquanto eu tomava café da manhã na cantina e quase sempre queimava a língua quando você aparecia, porque me esquecia de tudo, até mesmo da quentura do capuccino que tinha acabado de sair do microondas. No fundo, isso era tudo que eu precisava para continuar no meu plano infalível de não ter que te encarar: uma língua queimada era o pretexto ideal para adiar por mais uma semana aquele convite de te chamar pra lanchar ou ir para o cinema depois da aula como as minhas amigas sempre me mandavam fazer. Ao mesmo tempo, eu ia entrando em parafuso porque cada vez que eu te encontrava e a gente conversava sobre coisas sérias, coisas bobas e coisas nem tão bobas nem tão sérias assim, eu era nocauteada por você, sem nem chance de me levantar pra limpar o rosto ou beber água. Aí eu continuava ensaiando o que te dizer no dia em que eu cansasse de fugir desesperadamente de você, mas era eu olhar aqueles teus olhos que pareciam ler todas as linhas de pensamento que eu ia escrevendo, que eu ficava pior do que trem desgovernado, carro com freio quebrado, réu culpado. Enquanto as outras meninas te chamavam pra ir a aquela boate nova que tinha inaugurado ou pra beber naquele bar da moda no fim de semana, eu começava a falar descontroladamente sobre freios de bicicleta e sobre como eu vencia todos os meninos na sinuca e no dominó. Aí depois falava sobre videogames ou sobre aquela entrevista que aquela gostosona tinha dado no programa de domingo, quando o que eu queria mesmo te dizer era que você era tão lindo, mas tão lindo que me fazia querer casar com você sem nem saber o seu nome do meio e que eu ouvia a sua voz ecoando na minha cabeça só de lembrar de você, e que você era a única pessoa no mundo cuja voz eu realmente ouvia sem de fato ouvir. Quando eu me dava conta do que tava fazendo, meu deus do céu, que vontade de correr e voltar a ser o que eu sempre era na tua presença: uma criança assustada. Era exatamente nesse momento que eu fingia que meu celular tava tocando e saía de fininho pra bem longe, o mais longe possível de você, e me botava a arrancar uns quatro ou cinco fios de cabelo de cada vez por ter te dito aquelas besteiras todas. Ai como eu me odiava pós-você. Me odiava tanto que queria a todo custo parar de fingir que não acordava quase todos os dias pensando naquela entradinha do teu lábio superior entre o queixo e a boca ou que eu não comecei a me maquiar para ir para aula só por causa de você ou que não era pensando em um dia dividir com você que eu comprava o Milk-shake de 700ml quando ia sozinha ao cinema. Nesses momentos, é que eu tinha vontade de fazer valer todas minhas horas de ensaios, todas as vezes em que eu queimei minha língua e todo esse tempo que escondi isso e te dizer logo aquelas três palavrinhas: eu te amo.

domingo, 15 de março de 2009

Andei por sua rua de novo, no sábado

Nós dois nos matando de tanto rir
Sonhando com tudo o que há de vir
Você me chamando de louco...

terça-feira, 10 de março de 2009

Diálogos interessantíssimos VII

- Olhe, sei não, tu não tem jeito mesmo.
- Tenho que admitir. Tô sendo sincera aqui. Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, eu podia estar mentindo, eu tô só falando a verdade.
- HAHAHAHAHA

sexta-feira, 6 de março de 2009

Diálogos interessantíssimos VI

- Friend, agora eu sei que we belong together po!
- Oxe... e quando foi que tu duvidasse? Eu sei disso desde que a gente era pirra e não sabíamos quase nada da vida!
- Mas tu sabe que eu tô falando de mim e furustreco, né?
- Ah, pensei que era da gente...

quarta-feira, 4 de março de 2009

dez coisas que você precisa saber sobre mim

1)Eu não saio de casa sem tomar um copo de água pouco antes de cruzar a porta;
2)Sim, meu guarda-roupa é mais bagunçado do que fim de feira, mas não, eu não pretendo arrumar nem tão cedo;
3)Eu falo muito e sem parar mesmo, não adianta nem procurar algum botão de ON/OFF escondido pelo meu corpo;
4)Eu vou lembrar pra sempre de coisas que você nem sabia que tinha me dito algum dia na vida;
5)Tequila me deixa alegre. Cachaça, eufórica. Champagne, bêbada, porém ainda elegante. Vodka, o diabo em forma de gente;
6)Eu nunca durmo antes de 1 a.m e nunca acordo antes das 7. Nunca;
7)Eu vivo escrevendo cartas que sei que jamais vou entregar;
8)Sim, eu dirijo dançando e não estou nem aí para a ausência de fumê nos vidros do meu carro;
9)Não ouse mexer com alguém que eu amo. Sério, tô avisando;
10) Como diria o nosso colega Cazuzinha, mentiras sinceras me interessam.

terça-feira, 3 de março de 2009

...

A gente dorme de olhos fechados
que é pra poder sonhar por dentro, amor.