quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não precisa mais fugir, você me encontrou

Te espero porque sei que você vai voltar e porque simplesmente não sei fazer outra coisa. Você vai chegar sem aviso prévio, sem alarde, a qualquer momento: no meio da noite porque sabe que eu sempre estou acordada, numa dessas manhãs que pra mim só começam a partir das 10h ou numa sexta-feira, resultado da perigosa combinação de álcool com festas esquisitas e um celular na mão. Você vai dar uns segundos pra eu engolir minha surpresa e vai dizer logo de cara: eu fui, mas voltei. Eu sempre volto, você sabe. E, antes mesmo que eu comece a te encher com meu tradicional batalhão de perguntas, você vai me dizer que já sabe de tudo, que demorou demais dessa vez, que eu quase enlouqueci sem notícias suas, que poderia ter me ligado, mas que nunca dava por causa da sua vida atribulada, que sentiu saudades minhas o tempo todo e não só naqueles momentos em que tocava alguma de nossas músicas ou que você via alguém detestar feijão, azeitona e coca-cola, que você morria do coração por querer me contar as coisas do dia-a-dia e não poder porque estava se dando um daqueles seus tempos de tudo e todos. E quando eu ainda tentar arrumar algum jeito infalível de brigar com você, você vai respirar fundo e dizer a mais humilde de todas as frases : “me desculpa, eu sei que errei” e vai me fazer imediatamente jogar todas as armas no chão, esquecer toda a raiva e balançar a cabeça como quem diz “não precisa nem pedir”. Mesmo assim, você vai tentar se explicar (porque não aceita que eu pense que você não me ama, apesar de todas as suas crocodilagens) e vai dizer que em tempos de crise, a primeira de todas as fugas é de mim porque ela implica diretamente na fuga de você mesma. Aí vai dizer que eu sou você e que essa minha propriedade de espelho é uma das coisas que te deixa mais feliz, assim como é uma das que mais te assusta porque se ver tão claramente ás vezes é forte demais pro coração. Vai dizer que tem um instinto tão forte de protegê-lo que prefere fugir de tudo aquilo que possa causar emoção demais, paixão demais, dor demais. Vai falar que se for pensar em todos os monstros que te rondam nesse momento, não vai conseguir nem dormir sozinha no seu quarto. Então eu vou te convidar pra passar o fim de semana comigo e vou te dizer pra parar de se explicar tanto, que você deve é descansar da longa viagem de volta até aqui. Enquanto você estiver dormindo, eu vou ao mercado comprar todas aquelas comidinhas que você tanto gosta e ainda umas flores pra enfeitar a casa e você não descobrir que eu fiquei tão ruim durante a sua ausência. E quando você acordar de todos esses sonhos ruins e estiver bem descansada e pronta pra outra, vai me contar sobre aquela oferta de emprego que estava esperando há tanto tempo, sobre o seu novo vício musical e sobre as coisas que viveu enquanto esteve longe. Nós vamos conversar por horas, como se a saudade apenas nos aproximasse, como se nosso colete à prova de balas tivesse acabado de passar com êxito num teste nível 5 de dificuldade. Você vai me dizer que tem certeza absoluta da gente, que vê nossos filhos brincando, que me ama incondicionalmente e que é por essas e outras que eu devo enxergar teu afastamento como aquele período que um músico estabelece entre um disco e outro, como uma espécie de renascimento criativo. Então, eu vou olhar pra você bem besta e dizer: entender, eu entendo. Esperar, te espero. Só não demora demais porque você sabe que eu sou paranóica e sempre penso o pior. Vai, mas não sem me avisar antes. Vai, mas com a passagem de volta já em mãos. Vai, mas deixa a porta aberta.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vigésima primeira letra do alfabeto

Porque sim. Você sabe que eu não sou de poucas palavras nem de respostas objetivas, mas, em relação a você, eu sempre fico com a impressão de que vou ser redundante se ficar falando muito e prefiro ser direta ao ponto. Por que sim? Eu percebi que, depois que eu deixei você comer o último pedaço da minha pizza e me riscar inteira de caneta bic sem querer te matar a facadas, não adiantava mais tentar negar o que eu sinto por você. No meio de tanta gente que vive dissimulando os sentimentos, eu gosto de ir na contramão: quero ver é dizer sim no meio de tantos nãos. Porque, sim, você é o principal motivo dessa alegria que eu saio exibindo por aí e é seu o mérito de cuidar tão bem do meu coração acelerado sem deixá-lo tremer, cair ou se machucar. Porque, sim, você é chato, mal-humorado, cabeça-quente, implicante, vingativo e bipolar, mas consegue sê-lo de um jeito tão adorável que me deixa de coração cheio e rosto quente quando dá um de seus pitis, tem uma daquelas suas agonias e ou vem querer me comprar com gracinhas infames. Porque, desde aquele dia em que você me abraçou e disse "eu também", você é o meu sim.