quarta-feira, 25 de março de 2009

...

Tirou um malboro do bolso e perguntou: tem fogo? Antes que eu respondesse, ele baixou e levantou rapidamente os olhos; parecia ter ficado surpreso com alguma coisa no meu rosto. Você não fuma não, né? Desculpa aí. Fiquei intrigada com aquela conclusão do nada. Como você sabe? Tô errado? Não, eu não fumo mesmo. Mas como você descobriu antes de eu responder? Achou meus dentes muito brancos, foi? Não, não pode ter sido, eu nem cheguei a abrir a boca. E outra: eu faço clareamento, não são brancos assim por não fumar. Ele riu largamente e disse: clareamento é? Eu só posso dizer que foi muito bem feito, teus dentes são bonitos. Ah, brigada. Mesmo assim, não foram eles que me disseram que você não fumava. Foi alguma coisa que eu vi em você, acho que foi alguma coisa no teu olho, ou algo parecido, não consigo explicar direito. Você tá me saindo espertinho demais pro meu gosto... quando vê isso, você tava me observando há um tempão e, por ver me bebendo sem acender nenhum cigarro num longo espaço de tempo, deduziu que eu não fumava. Aí, veio com essa historinha de pedir fogo só pra puxar assunto comigo, eu já conheço muito bem esses truques de homem, baby. Você se acha, menina, disse com certo deboche aquele cara que só agora eu via estar de blusa preta e calça jeans rasgada na barra, mexendo a cabeça de um lado pro outro como quem diz tsc, coitada, poor little girl. Me acho nada, só tô bêbada e cansada demais de caras como você. Caras como eu? Se você me conhece tanto a ponto de estar cansada de mim, deve saber meu nome, profissão, onde eu moro, etc. Diz aí. Até isso eu já conheço, essa coisa de “eu sou diferente de todos os homens que você já conheceu, me deixa te mostrar”, isso não cola comigo, eu não sou fácil de me deixar levar por esse papinho furado. É por isso que tá sozinha, embriagada, às 4 horas da manhã, e discutindo com um cara que acha que conhece sem nunca ter visto na vida. E outra: eu nunca disse que era diferente de todos os outros. Sim, eu tô sozinha mesmo, eu sou sozinha, e o que você tem com isso? Você também não me conhece. Tem razão, se eu conhecesse, jamais te deixaria chegar a esse estado. Que estado? Olha, tem gente muito pior do que eu pra você ir importunar nesse bar. Sai daqui, pára de me confundir o juízo, vai. Só saio se você sair junto. Quê? Eu não vou sair nem tão cedo daqui. Nem eu. Você acha que tem o direito de me obrigar a ficar na sua companhia o resto da noite? E quem disse que você vai ficar na minha companhia? Ah, é? Ótimo, vou me livrar de você. Vai mesmo, porque eu tô indo ali no banheiro e não sei se volto. Vai logo, pára de ficar falando besteira então. Porque você está tão agoniada? Tem tanto medo assim de ficar perto de mim, é? Eu não sei porque eu ainda estou falando com você. Quando você soma bebida aos meus olhos castanhos e minhas frases de efeito, o resultado esperado é esse, não posso fazer nada. Eu devo estar muito bêbada mesmo pra rir de uma coisa como essa, ai ai. E sabe o que é pior? Essa é minha primeira risada numa semana inteira. Acredite ou não, eu sei. Acredite ou não você também, eu sei que você sabe, só não sei como, assim como ainda não sei como você sabe de tanta coisa que eu nunca te disse na vida. Aliás, eu nunca nem te vi na vida. Nem eu mesmo sei como é isso, menina, eu só sei e pronto. O que eu sei é que isso aqui tá ficando demais, eu vou embora. Fica, vai já já. Se eu ficar, você me conta como descobriu que eu não fumava? Não. Ah, então sai da frente e me deixa. Não, isso nunca mais.

Um comentário:

Unknown disse...

a dama da noite, hein?
hahaha