quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Para uma menina com uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino,
o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.

E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha
- a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.


O poema mais bonito que existe.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

that's the truco truco nos pitoco!

- Não corre, menina! Correndo desse jeito, mais cedo ou mais tarde leva uma queda!


Quanto mais ela dizia, mais eu sentia como se naquele momento enfiasse pedaços de algodão dentro do ouvido. Quem já viu criança não correr? E se cair? Caiu, pronto, fim de papo. Assim eu pensava. Ou melhor, não pensava. Porque o que eu queria era correr. Pela casa, pelo quintal, por entre as madeiras da casinha colorida que tinha na escola. Corria. Corri tanto nessa época que nunca mais desaprendi, igual a andar de bicicleta. Primeiro, era por ânsia de querer tudo, ver, pegar tudo, todas as coisas entre os meus dedos fininhos. Depois, os caminhos mudaram, o que era corrida virou maratona e eu precisei melhorar o meu ritmo, tomar isotônicos, ganhar preparo físico. Foi quando uma figurinha que nunca tinha feito parte do álbum se apresentou pra mim e foi entrando, tomando café de frente pra mim na mesa da cozinha e se instalou de vez na minha casa. Chama-se sensatez. E é atrás dela que venho correndo desde então. Correndo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Os dragões não conhecem o paraíso

Além de tudo: eu não o via. Os dragões são invisíveis, você sabe. Sabe? Eu não sabia. Isso é tão lento, tão delicado de contar - você ainda tem paciência? Certo, muito lógico você querer saber como, afinal, eu tinha tanta certeza da existência dele, se afirmo que não o via. Caso você dissesse isso, ele riria. Se, como os homens e as hienas, os dragões tivessem o dom ambíguo do riso. Você o acharia talvez irônico, mas ele estaria impassível quanto perguntasse assim: mas então você só acredita naquilo que vê? Se você dissesse sim, ele falaria em unicórnios, salamandras, harpias, hamadríades, sereias e ogros. Talvez em fadas também, orixás quem sabe? Ou átomos, buracos negros, anãs brancas, quasars e protozoários. E diria, com aquele ar levemente pedante: "Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno. Os dragões não cabem nesses pequenos mundos de paredes invioláveis para o que não é visível".


Eu aprendi o jeito de perceber quando o dragão estava a meu lado. Certa vez, descemos juntos pelo elevador com aquela mulher de olhos-azuis-inocentes e seu bebê, que também tinha olhos-azuis-inocentes. O bebê olhou o tempo todo para onde estava o dragão. Os dragões param sempre do lado esquerdo das pessoas, para conversar direto com o coração. O ar a meu lado ficou leve, de uma coloração vagamente púrpura. Sinal que ele estava feliz. Ele, o dragão, e também o bebê, e eu, e a mulher, e a japonesa que subiu no sexto andar, e um rapaz de barba no terceiro. Sorríamos suaves, meio tolos, descendo juntos pelo elevador numa tarde que lembro de abril - esse é o mês dos dragões - dentro daquele clima de eternidade fluida que apenas os dragões, mas só às vezes, sabem transmitir.

domingo, 23 de novembro de 2008

Mel e Girassóis

Ele disse:
― Eu não vou me esquecer de você.
Ela disse:
― Nem eu.
Tocou-a devagar no ombro nu dourado sob o vestido decotado, e disse:
― Sabe, eu pensei tanto. Eu acho que.
Ela se voltou de repente. E disse:
― Eu também. Eu acho que.
Ficaram se olhando. Completamente dourados, olhos úmidos. Seria a brisa? Verão pleno solto lá fora.
Bem perto dela, ele perguntou:
― O quê?
Ela disse:
― Sim.
Puxou-o pela cintura, ainda mais perto.
Ela disse:
― Você parece mel.
Ele disse:
― E você, um girassol.


Caio Fernando, mais uma vez.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A middle of adventure is such a perfect place to start

I'm going back to 505
If it's a 7 hours flight
Or a 45 minute drive
In my imagination
You're waiting lying on your side
With your hands between your thighs

Stop and wait a sec
When you look at me like that
My darling, what did you expect?
I probably still adore you
With your hands around my neck
Or I did last time I checked...

But I crumble completely when you cry
It seems like once again you've had to greet me with goodbye
I'm always just about to go and spoil the surprise
Take my hands off of your eyes too soon

I'm going back to 505
If it's a 7 hour flight or a 45 minute drive
In my imagination you're waiting lying on your side
With your hands between your thighs
And a smile

domingo, 2 de novembro de 2008

momento romance pra tirar as teias de aranha...

Mas o legal é quando mesmo depois de alguns anos de clausura, você acorda ao lado da sua amada e se descobre um felizardo.
(só pra ter certeza)
O legal, man, é saber que todos os acidentes de percurso valem a pena quando lhe aproximam ainda mais da pessoa certa.
(só pra ter certeza!)
O legal é ir dormir sabendo que ao acordar você poderá mais uma vez contar todas as pintinhas e sinais da pele da sua escolhida, só pra ter certeza
só pra ter certeza de que não esqueceu nada, que nada saiu da sua ordem, diversos elementos continuam conspirando a seu favor e você continua reinando, reinando enquanto dorme.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

dama da noite

(...) Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro.

Só por ele, por esse que ainda não veio, te deixo essa grana agora, precisa troco não, pego a minha bolsa e dou a fora já. Está quase amanhecendo, boy. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. Envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui, continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.


C. F. Abreu

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

estado: crítico

essa sou eu, na esquina paranóia delirante, de novo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

é hoje, fias!

Eu quis te conhecer,
mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente pro sentir vontade

Eu quis te convencer,
mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade

Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks I'm sad
I'll take a ride in melodies and bees and birds will hear my words
Will be both us and you and them together

Cause i can forget about myself, trying to be everybody else
I feel allright that we can go away
And please my day
I let you stay with me if you surrender.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

blue bird

there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too tough for him, I say, stay in there, I'm not going to let anybody see you. there's a bluebird in my heart that wants to get out but I pur whiskey on him and inhale cigarette smoke and the whores and the bartenders and the grocery clerks never know that he's in there. there's a bluebird in my heart that wants to get out but I'm too clever, I only let him out at night sometimes when everybody's asleep. I say, I know that you're there, so don't be sad. there's a bluebird in my heart.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

olheiras, não me apareçam amanhã, please!

3h da manhã, insônia mode ON, paciência pra ler um livro mode OFF e o que tem pra se fazer nesse momento? acertou quem disse pensar besteira. É, estou aqui exatamente fazendo isso. E que besteira é essa? Deixa de ser besteira se eu contar, né verdade?

Da série Diálogos Interessantíssimos III

"Vamos falar sobre a corrupção dos sonhos, esse fenômeno por que passamos ao longo da vida e que vai nos fazendo perder um pouco da nossa identidade, além de ser um aspecto pouco discutido sobre a corrupção na vida das pessoas (...)"

- Ai, super me identifico com esse tema! Eu, por exemplo, quando entrei no curso o meu sonho era ser VJ da MTV e hoje o que eu quero é ser Trainee da Unilever!
- Quê?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

that's the way it (finally) is

Você bem sabe o que eu segurei
Pra te amar o quanto eu te amei
Eu desatino só de lembrar
Que eu dei bobeira e o tempo a passar
Passar vexame como eu passei
Atordoada eu me embriaguei
Agora estou de cara limpa
E sóbria a sua pinta é bem difícil de engolir!

domingo, 31 de agosto de 2008

Para Nathália, por um motivo ou outro, um menino ou outro

Mas eu gostava demais dele. O nariz, o cabelo em desalinho, os desenhos coloridos nas costas e aquele movimento de olhos que só ele fazia tinham me prometido a ele desde a primeira vez que eu o vi, naquela manhã de quarta-feira. Eu me lembro perfeitamente. Inclusive da promessa de ser dele dali até até. Eu era uma adolescente difícil, já tinha esse gênio de cavalo do cão, como diz minha mãe. Sempre estava de castigo, batia no meu irmão mais novo, vivia gazeando aula pelo(s) pátio(s) da(s) escola(s), chutando pedrinhas pelo meio do caminho e comendo alguma fruta que minha mãe me mandava pro lanche. Era tinhosa, sangue ruim mesmo. Carne de pescoço. Numa dessas andanças, tinha ele, o menino. O nome dele? Não é que eu não soubesse: é que eu achava que chamar pelo nome deixava as coisas sérias demais, reais demais e ele pra mim era mais uma fuga da imaginação, um descanso na minha loucura. E assim vem sendo desde então. Nunca chamei ele pelo nome: o que tem escrito na carteira de identidade dele é meu segredo e eu não vou contar pra ninguém, nem pra você, pra quem conto tudo e já contei muito mais. Esse é o meu segredo e realmente não vem ao caso. Deixa eu te contar a história. Ele tinha somente 16 e já tinha uma tatuagem enorme nas costas largas e aquela cara que é capaz de deixar qualquer mulher de cabelo em pé e mãos atadas. Eu tinha 15, e como te disse antes, já tinha o sangue quente e o coração na goela. Apesar disso, não posso deixar de dizer que não tinha esses peitos lapidados com 200 ml de silicone, essas horas de academia nem esses cabelos cor de sangue, que parecem encaixar-se como uma luva a essa minha personalidade. Mas já tinha essas sardas no rosto e essa obstinação no olhar e ele (ah, ele) já tinha aquele pomo-de-adão lhe correndo pela garganta e um andar meio torto, pernas trocadas que deixavam ele ainda mais lindo. Eu sei, eu sei, estou enrolando demais. Mas me aguarde que eu chego na parte que você quer. Só espere. Não era como se eu me imaginasse com ele: acredite se quiser, eu não me via namorando com ele. Não conseguia nem pensar em ele conhecendo meus pais, indo almoçar na casa de vovó no domingo ou apontando pra mim e dizendo “essa é minha namorada”. Não.Não era isso que eu queria dele. Também não era como se eu só quisesse beijar a boca dele com todo o vigor da minha progesterona, meu estrógeno e mais não sei o que lá que eu aprendi em biologia ou como se eu apenas quisesse me valer de todo aquele corpo só pra tirar minha virgindade e me tornar definitivamente uma das minhas amigas mais velhas, inclusive você. Lembra desse meu complexo de virgem aos 15? É, isso é inesquecível, é verdade. Eu sei que você lembra. Bem, o fato é que não era nada isso.Era uma coisa minha e dele, minha por ele, na verdade, um sentimento que nem se atrevia a se olhar no espelho. Se você me perguntasse o que era, eu ia dizer sem titubear: coração disparado, vermelho no rosto, fogueira no estômago, o que é isso, meu deus? Paixão, ponto final. Eu era apaixonada por ele a ponto de esquecer os sapatos, de engolir caroço de melancia, de ir olhá-lo no futebol pelos combogós do banheiro da escola, de me perder toda quando ele aparecia. Perder meus pedaços e meu controle, que nada, nem ninguém (exceto ele, claro) conseguiam roubar. Tu acredita que eu sabia até onde ele morava?É, um amigo de um primo dele tinha me dito. Dito e feito. Pegava minha Caloi verde e rosa e desviava o caminho da padaria para passar na casa dele. O que eu não sabia é que esse não era um simples desvio de rota: eu já tinha sido desviada, perdido o mapa, estrada sem placa, sem qualquer sinalização. Nenhum sinal de perigo. Perigo, alerta vermelho, código preto, eu não sabia o que era nada disso. A única coisa que eu sabia da palavra perigo é que ela é em inglês é danger, dangerous. Só. Pra mim, tudo aquilo era inofensivo demais, até mesmo bobo demais. Sim, eu passava pela rua dele todos os dias entre as quatro e cinco da tarde e que mal isso poderia ter? Mal, mal mesmo realmente não havia. Mas havia umas mil duzentas e cinqüenta mil estrelas no meu olhar, uns cem pés de esperança sendo aguadas por vários regadores gigantes e mais uns trinta dentes que sempre surgiam no meu rosto de menina magricela quando eu o fazia. Eu ficava parada, só olhando pra ele. Só olhando e rindo e sentindo tudo parado, tudo, absolutamente tudo. Lá vinha ele.

Pronto.

Parou.

Eu era capaz de ouvir minha respiração, quase conseguia ouvir meu sangue fazendo algo parecido com a Maratona de Nova York dentro de mim. Era isso. Aliás, é isso. Vinte e cinco anos que tenho, trinta que vou ter daqui a 4 anos e meio e sei que nunca vou viver nada parecido. Porque era uma coisa pura mais do que água de fonte subterrânea, eu conseguia ver meus pés pela água no fundo como em mar de Fernando de Noronha, não havia egoísmo, raiva ou necessidade de atenção, não. Talvez o único sinal de egoísmo fosse eu jamais ter deixado ele saber. Sim, sim, até hoje. Eu nunca quis que ele soubesse porque o melhor do amor platônico é justamente o fato de ele ser platônico.A partir do momento em que ele é pronunciado, ele se materializa, independentemente da reciprocidade do outro. Mesmo que tudo corra bem, que a outra pessoa também te ame loucamente ou até mesmo sonhe com você todas as noites, não importa: deixa de ser amor platônico. E isso foi algo que mesmo com meu coração na goela, minhas crocodilagens, meu sutiã recheado de algodões na época e minha caloi todas as tardes na frente da casa dele, eu guardei em mim. Eu sei que essa história é estranha pra você, sei mesmo. Primeiro, você deve estar se perguntando: por que eu guardei isso por tanto tempo? E segundo, como eu pude me sentir assim por alguém alguma vez na vida, não é? Você me conhece. Você sabe que eu sou dura na queda, mas quando eu caio, já caio dura.Morte súbita, sem pausa pra catalepsia ou purgatório. E essa foi a única vez que eu caí. Justamente por ele a quem era capaz de enxergar de olho fechado, mas desviava a íris de olho aberto; ele que me tirava do sério, me fazia ser molenga, fofa (como dizem vocês quando alguém é doce na vida), justamente ele, junto de quem eu mantinha os joelhos fechados e calcinha exatamente como eu vesti sem nenhum impulso de fazer diferente. Justamente por ele a quem nunca sequer dirigi a palavra ou dei um aceno simpático. Justamente por ele a quem encontrei na rua semana passada. Como ele estava? Ele estava ele, that’s all.A minha paixão-loucura-criancice por ele ainda é a mesma, eu fui jogada no passado, deixei de ser eu e virei eu-fui, eu simplesmente não consegui mais andar. Como era de se esperar, eu não tive coragem de encará-lo, meus olhos fugiram depressa pros braços e mãos dele (você bem sabe da minha loucura por mãos, não é?). E lá estava exatamente o que eu menos esperava ver nele. Nunca uma coisa tão brilhante me fez ficar tão opaca, tão desbotada. Nunca. Como diante de tantas coisas onde eu pudesse descansar meu olhar, tanta beleza pra eu ver, tanta saudade pra matar a primeira coisa que eu consegui enxergar foi uma aliança? Uma aliança, minha filha. Eu e essa minha mania por detalhes. Sempre me disseram que se prender demais aos detalhes desvia a atenção do ponto central e é realmente verdade. O ponto central é que eu tinha perdido ele de vez, mesmo sem nunca ter tido. Sem nunca ter tido nem coragem de ter. E sem nunca mais ter tido nada parecido nem diferente, nada que significasse alguma coisa pra mim. Lembra quando eu disse que eu não via mais as placas de perigo nem sabia mais o que ele significava quando era mais nova?. Nunca mais achei, o achei, me achei, barco perdido, carregado e cheio. Também nunca achei que fosse virar uma cínica, com direito a carteira oficial do Clube das Sonsas e título de maior fingidora que essa cidade já viu. Eu me perdi, rota para a clausura, para a secura de caráter e para o coração duro, longe de mim mesma. Achei de me perder, perder os sentimentos e só achar exatamente o que quisesse, ou seja, o corpo de vários outros homens ao longo dos anos. E foi aí que me perdi de vez e agora me acho aqui te contando tudo isso e me achando a mais seca (ou a mais idiota) das criaturas. Quando o vi, percebi tudo: quis me achar. Me achar nos braços dele, na cama dele, nos olhos dele, na rua dele encostada na minha Caloi velha. Eu achava que nunca perdia. Disse bem: achava. Porque agora eu não acho mais é nada e se você contar pra alguém que me viu chorando, nunca mais eu te conto nada, ok?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Like a boy

Gente, o mundo tá perdido (ou será que é a gente que tá perdido no mundo?). O fato é que tá tudo virado, perna pra cima, cabeça no chão e menina no lugar de menino. Há quem diga que é o fim dos tempos e há os outros que dizem que é apenas o começo. Eu confesso que não sei, assim como venho não sabendo de, aproximadamente, um milhão de coisas na minha vida lately. Quando Charlotte começa a não querer mais achar um marido e não querer hold hands por aí, você sabe que a situação tá preta. Isso nunca foi assim. O romance sempre foi a prioridade pra ela, o comprometimento também, mas agora a vida social e a liberdade vem ficando nos spotlights e saindo nas capas das revistas que ela lê. E aquela pessoa que era mais certa do que o fato de que Pelé é o melhor do mundo vem ficando cada vez mais errada, vem cada vez mais desafiando o outro, botando ele à prova. Logo ela que era a namorada exemplar, a indefectível, hoje é a errada da relação, a que não sabe mais fazer isso, a que doesn’t do relationships. Aquela que diz “vou ali” e anda, pára, praticamente faz campanha pra vereadora da cidade enquanto o outro tá lá na mesa sentado, esperando, até ligando em caso de uma eventual demora excessiva. Pára tudo. Quando foi que Charlotte virou Madonna? Alguém pode me responder?

sábado, 23 de agosto de 2008

saudade

When you're gone, all the colors fade
When you're gone, no new year's day parade
When you're gone, colors seem to fade

domingo, 10 de agosto de 2008

.

Why do I keep beating myself with a hammer?
Because it feels so good when I stop.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Astronauta II

- Vovó, posso perguntar uma coisa a você?
- Pode, querida, claro.
- Você jura que diz a verdade e me explica ela?
- Ela, a verdade? Digo e explico, tá bom?
- Tá. Vovó, você acha certo o pai, a mãe e a escola obrigarem a criança a estudar?
- Por que você me perguntando isso, Sofia?
- Porque eu não acho certo. Eu acho que quem tem que decidir isso sou eu.
- Se você não estudar, nunca vai conseguir ter seu dinheiro e ser igual a seus pais, filha. - Mas você mesma não vive dizendo que tio Francisco nunca estudou e hoje tem casa, carro, filho e tudo que papai e mamãe têm?
- Seu tio teve muita sorte e também é muito inteligente.
- E minha mãe não é inteligente? Você vive dizendo que eu sou muito inteligente, então eu não preciso estudar também!
- Não é assim, Sofia, tem que estudar, sim. Talvez obrigar não seja a melhor forma, mas sua mãe tem de fazer você estudar.
- E se eu não quiser? Se eu quiser ser igual a você ? Você não estudou. Você não é feliz do jeito que é, vó?
- Eu sou, mas se pudesse voltar no tempo, teria estudado e me formado em professora.
- Papai disse que professora ganha pouco.
- É verdade, mas eu ia apenas ajudar seu avô nas despesas da casa e não ia precisar ganhar muito.
- E por que você não estudou? Seu pai não lhe obrigou?
- Meu pai só me obrigou a ser mulher a vida inteira, querida. Obrigou-me a dormir cedo, rir baixo, fazer o jantar dele e usar roupas apertadas. E a perdoar tudo isso. Eu não quero que isso aconteça com você. Nem eu nem sua mãe, que viu isso dentro de casa. Você tem que estudar pra não deixar isso acontecer.
- Ô vó, mas mamãe não dorme cedo, ri baixo, faz o jantar meu e de papai e usa roupas apertadas?
- Sim, mas ela trabalha e tem o próprio dinheiro dela, não depende do seu pai.
- Mas pra mim dá no mesmo. Quase todo mundo que eu conheço que trabalha não precisa estudar.
- Não precisa agora, Sofia, mas aposto que eles tiveram que estudar muito pra chegar a esse ponto.
- E eu não posso ser ao contrário? Trabalhar e estudar depois?
- E você ia trabalhar em quê?
- Sei lá, vovó. Eu queria ser astronauta.
- Ah, minha filha, pra ser astronauta é que tem que estudar mesmo. E estudar coisas bem difíceis, que nem sua mãe, nem seu pai, nem a professora sabem.
- É? Ah, eu sempre achei a lua muito longe mesmo.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

ai ai ai ai ai ai ai

tô com o Sistema nervoso!

domingo, 3 de agosto de 2008

Eu sou o espaço

Para Laurinha, dona de alguns dos melhores diálogos noturnos e da curiosidade mais aguçada do planeta!


- Mãe, o que é tem depois do céu?
- O espaço.
- Mas espaço não é um lugarzinho que fica entre duas coisas?
- Não, filha, esse espaço de que eu tou falando é outro.
- E tem vários outros espaços é?
- Tem sim! Tem esse espaço de que você falou, tem o espaço sideral, tem o espaço físico, o amostral...
- E por que todos eles têm nome e sobrenome?
- Ah, Laurinha, porque são nomes compostos. O segundo nome vem pra definir de que espaço a gente tá falando, igualzinho ao sobrenome vem pra explicar melhor de quem a gente tá falando, entendeu?
- Então eu que tenho um, dois, três, quatro, cinco, seis nomes sou um espaço também?
- Você ocupa um espaço aqui dentro do coração de mamãe, tá certo?
- De que espaço você tá falando agora? Do espaço-eu? Eu sou o espaço?
- Ih, a senhora já tá espertinha demais e eu estou muito cansada, é melhor a gente ir dormir pra conseguir acordar na hora de ir pra escola amanhã. Venha, deite aqui junto de mim.
- E tem espaço aí na sua cama?
- Menina danada! Se eu não tivesse com tanto sono, ia acordar o teu pai só pra contar essa.
- Mas papai não tem que ter o espaço dele e poder dormir em paz?
- Tá bom, Laura. Você é um espaço.
- Pensei que eu era O espaço.
- ok, ok, você é O espaço.
- Mas de que espaço você tá falando?

domingo, 27 de julho de 2008

Da série Diálogos Interessantíssimos II

- Tou me sentindo agoniada, estranha, uma gastura no coração, sei lá.
- Como assim?
- Igual a um pacote de algodão.
- O que você quer dizer com pacote de algodão?
- Ninguém sabe o que é um pacote de algodão.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Carta do dia: 10 de Espadas

Momento decisivo!

O 10 de Espadas emerge como arcano de conselho neste momento de sua vida, Amanda, sugerindo que é chegada a hora de agir de maneira decisiva, ainda que cortante e antipática, para resolver as confusões e solucionar as questões. A oportunidade para colocar um ponto final nas questões que tanto lhe incomodam surgirá. Não a desperdice “tendo pena” dos outros. Faça o que deve ser feito e assim evitará dores maiores, não apenas para si, como também para os outros. Nesse momento, quando mais você se preocupar em ter uma imagem boazinha, pior será para todos. Muitas vezes é fundamental agir de uma forma cortante, a fim de que os problemas não piorem.

domingo, 20 de julho de 2008

bandeira branca, trégua, tempo técnico

qualquer coisa que me faça parar um pouquinho. Olheiras, olhos secos, horas de seriados no meio das madrugadas e dor de cabeça no outro dia são ótimas metáforas pra ilustrar esses dias. E como se não bastasse, ainda ter que passar horas e horas correndo pelos cantos. Isso é coisa pra atleta e, como todo mundo sabe, a pessoa mais sedentária do mundo é essa que vos escreve aqui. Cansada é pouco, eu estou exausta. Pode ir saboreando sua vitória porque se isso foi um jogo, você ganhou: eu perdi a direção. Se foi um sonho, se foi o céu, eu não sei. Eu, que não sei perder, perdi o sono na escuridão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

I still got sand in my shoes

Você aprisiona, eu liberto. Você adormece as paixões, eu desperto. Você acorda cedo, trabalha e eu sonho até as onze com coisas banais. Você adivinhou meus segredos e até a data do meu aniversário quando eu pensava ter tudo muito bem escondido dentro do meu vestido e das convenções de não mostrar muito de si tão rapidamente. Você me fez baixar a guarda e colocar minha armadura de ferro dentro do armário quando, ao mesmo tempo, eu abastecia meu estoque de espadas novas. Eu te libertei quando o que eu mais queria era te prender e você me prendeu quando o que eu mais eu precisava era estar solta. Você cantou várias músicas pra mim quando eu queria estar em silêncio. E eu acabei entrando no teu ritmo. Você me desenhou quando a palavra ficou com sono e foi dormir. Você me chamou pra tua vida como uma criança chama o carrinho do sorvete e pede por um picolé de fruta no alto verão. Você me deu compreensão quando eu nem pedia pra ser entendida e quando eu tava começando a te compreender, você correu. Logo de mim que sempre fujo e deixo tudo pra trás. Eu, que sempre corri, fiquei parada dessa vez. Sim, eu já cortei os fios que me ligavam a você, mudei de telefone, de "alvo" e até de cabelo, mas sempre volto ao mesmo ponto. Aquele ponto em que você continuou e eu parei, e que eu até hoje não sei precisar aonde foi. Eu, que queria tirar umas férias de amar, acabei pegando um avião pra longe, muito mais longe do que eu queria ir. Japão? Austrália? Antártida? Antes fosse. Aí é só arrumar as malas e voltar pra casa correndo. A viagem que eu fiz é sem passagem de volta, é pra ficar.

domingo, 13 de julho de 2008

(sem título)

O sapato vermelho não lhe parecia mais tão atraente naquela noite, não sabia se ele na verdade nunca fora ou se era ela que já não agüentava mais olhá-lo. Piscou os olhos, levantou-se e pôs-se a passar lápis preto nos olhos já vermelhos da água que se derramava por eles.
- Por que você não pára de botar esse negócio pelo menos enquanto a gente conversa?
- Conversar o quê? Me parece que você já disse tudo o que queria. Agora me deixa me maquiar em paz.
- Então, é assim que vai terminar?
- Eu é que deveria estar perguntando isso a você! Por mim, você estaria agora na primeira fila me esperando e me oferecendo seus olhos verdes e, mais tarde, suas mãos, eu e você. Não me olhe assim: já me vesti toda, botei maquiagem, não posso borrar de novo. Porra de lápis que não funciona! Pára que eu preciso secar meus olhos! Vai, sai. Mas saiba que se sair por aquela porta agora, é pra não voltar nunca mais.
- Não é assim que funciona, Ana. Você está muito nervosa! Por que você não larga esse disfarce, essas pinturas todas, e me diz o que você tá pensando, sem ficar só me mandando ir embora logo?! Me diga o que você está pensando... Uma coisa como o que a gente tem não pode terminar assim, mal entendida...
- E que coisa é essa que eu não vejo? Eu não sou idiota: eu já passei por muita coisa e eu sei que o que fica nessa vida é só o que a gente pode ver. É pra isso que a gente tem olho. Pra ver o que existe e ter aquilo pra sempre, o que você vê é seu, ninguém tira. Assim como o que você toca. E eu não consigo te tocar, nunca consegui, eu é que sempre fui tocada por você. E me acostumei a isso, nunca precisei mudar essa situação. Você foi o único homem pra quem me deixei ser assim. E o único que eu amei. Ironicamente, foi justamente o único que nunca me amou.
- Isso não é verdade, Ana. Eu te amei desde a primeira vez que eu te vi lá naquele bar, com aquela peruca loira que eu roubei do teatro pra que eu só pudesse te ter daquele jeito, com aquele rosto. Eu te amei desde aquele dia. E te tirei de lá, quis te guardar só pra mim e eu já tinha dito que ia te dar tudo. Mas você correu de mim, lembra? Preferia a sua vida, os seus movimentos, o seu mundo de perucas, brincos, sapatos, homens...
- Cala a boca! O único homem que eu tive e tenho na minha vida é você! Você sabe disso, não queira me culpar por seu ciúme doentio, por sua insegurança de menino mimado que dormia com a mãe até os doze anos! Você nunca me amou: eu era mais um brinquedo como aqueles que você ganhava do seu pai quando ele voltava de viagem e que você colocava na estante assim que ganhava outro. E é exatamente isso que você quer fazer agora: você não tem coragem de me jogar no lixo, prefere me colocar na estante pra me ter quando quiser. Mas eu não: eu não sou dessas. Eu respiro, meu coração pulsa, acelera, se acalma. Eu nunca quis atenção de uma criança: o que eu mereço é amor de homem. Isso aqui é a minha vida, mas você sou eu. Depois que eu te conheci, até a dança ficou diferente, novos passos. Eu sei que eu sempre fui a estrela da noite, a mais bonita, a melhor em tudo e pra todos, menos pra você. Você me desarmou, roubou meus sapatos, minhas meias, jogou uma pedra no vidro que eu segurei a vida inteira. E pra você, eu era apenas a dançarina mais bonita de toda cidade e que por isso ia ficar linda decorando seu quarto. E não venha me dizer que eu fico ainda mais bonita chorando porque eu vou chorar ainda mais e eu não posso chegar lá fora assim. Não. Já disse, não quero sua piedade nem sua vergonha: se é assim que você se sente, vá embora. Sai.
- Ana, dez minutos, palco principal. Está pronta?
- Sim, quase. Está vendo? Sai, teu tempo acabou.
- Ana... se você se sentia assim porque não foi embora comigo e deixou tudo isso pra trás? E saiba que pra mim você não era só mais um carrinho da minha coleção, não. E era justamente por isso que eu te queria só pra mim.
- Ah, então como você não conseguiu me ter como queria, você simplesmente decidiu me deixar por um tempo, pra voltar quando estivesse enfiado num casamento com alguma mulher que fosse exclusiva e que pertencesse ao seu mundinho? Eu não vou amar um idiota mesmo que já ame! Prefiro amar todos esses homens que me amam sem amor nenhum do que amar alguém que pensa que amar permite a você colocar o outro numa fôrma de gelo!
- Você não entende, a Gabriela tá grávida de um filho meu, eu não posso continuar te vendo! Pronto, falei. Eu não queria ter que te contar isso, mas você me obrigou!
- Filho da puta! Você ia me deixar e nem ia me dizer o real motivo! Tá me deixando só porque vai casar, porque vai ser pai e constituir uma família linda e feliz, mas não percebe que eu é que te amo e eu sou a única que pode te fazer um homem de verdade! Sai da minha frente. Nojento! Falso!
- E você queria o quê? Que eu me casasse com você e com essa vida que você leva ? O que eu ia dizer à minha família, aos meus amigos quando perguntassem quem era a minha mulher?
- Você deveria dizer exatamente isso: essa é a minha mulher. Minha e de mais ninguém, sem importar o fato de que esteja dançando todos os fins de semana pra outros tantos homens. Mas, agora o máximo que você pode dizer é que é um covarde, um canalha! E o que é que tem a minha vida? Pois saiba que eu prefiro mil vezes levar a vida que eu levo do que qualquer outra, inclusive a sua... rico, bonito e covarde! Fraco. Teve que sair do castelo e vim até aqui, o submundo, pra encontrar amor de verdade porque no seu mundinho as mulheres só querem o seu nome e seu dinheiro!
- E você não quer dinheiro não? Você fala como se prostituta não vivesse do dinheiro de homens como eu...
- Tira a mão de mim agora! Sai daqui! Sai!
- Calma, Ana, calma, você tá me machucando! Eu estou tentando conversar, Ana! Acredite em mim, eu gosto de você, mas ponha-se no meu lugar. Eu não tenho escolha, não posso largar minha vida toda pra ficar com você! Vamos nos resolver como duas pessoas civilizadas... você tá louca? Você acha que pode cuspir assim na minha cara? Quem você tá pensando que é? Eu não vou mais falar: gente como você não entende a linguagem das palavras. Eu tentei.
- Você é muito pior: não entende a linguagem do amor. Não vai aprender porque já tá sujo demais da graxa desse mundo imundo. Você é um imundo. Você é uma fruta que já tá com o miolo podre. Eu tenho vergonha de te amar porque isso me contamina também. Mas eu já comecei a te botar pra fora e vou te cuspir até o último pedaço. Aliás, vou cuspir só o que é parte minha que gosta de você porque de você não tem nada em mim pelo simples fato de que você nada me deu. Nesse momento, eu só sinto vergonha de te amar.

Ele, então, limpou os sapatos perfeitamente engraxados no carpete e bateu a porta como filho que sai da casa dos pais: pra nunca mais voltar.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Desde criança, eu sempre ouvi dizer que amor e ódio são dois sentimentos muito próximos, seja na intensidade, seja no número de letras, seja na classificação gramatical, seja no estrago que deixam na gente. Sim, porque um não existe sem o outro e é inconcebível o surgimento de qualquer paixão sem esses dois elementos. É praticamente a cadeia alimentar dos relacionamentos: se um membro entra em extinção, todo o ecossistema goes down right away. Tiro e queda, assim como no meio animal. A pergunta é: como isso pode acontecer? Existe algum ponto crítico a partir do qual o amor vira ódio assim como água vira vapor a 100 ºC? A verdade é que eu não sei e provavelmente nunca vou saber. O que eu sei é que eu cansei dessa história de odiar você. Te odiar é a coisa mais exaustiva que eu venho fazendo em muito tempo e eu estou realmente exausta. Cansei de te chamar de burro, de até hoje não entender o que aconteceu, de dar murros na tua foto, de escrever mil coisas que eu sei que não vou te mandar nunca por um motivo ou outro. Cansei. Cansei mesmo, joguei a toalha. Chega de ser atriz. Eu não te odeio ok? Nem um pouco e esse é justamente o meu maior problema. A falta de um ódio genuíno e permanente por você. Eu já tentei, menti, dissimulei, ri do que não tinha graça e até correr, literalmente, de você eu corri. Sim, já te xinguei e amaldiçoei o dia em que te conheci, e fiz isso num acesso de raiva, de ódio, é verdade. Mas não te odeio. Nem me odeio por não te odiar também. O que eu odeio é o fato de você não perceber que te odiar é, e seria em qualquer futuro pelos próximos 10 anos, uma tarefa impossível pra mim. É claro que isso não me impede de ter impulsos assassinos de vez em quando ou de ter que me segurar pra não te dar logo três tapas - Pá! Pá! Pá! - e pronto. Mas também não alivia o que eu sinto. Te odiando, te gostando, não faz a menor diferença: eu estou pensando em você do mesmo jeito. Te gostando, te odiando: você não está comigo anyway. O que me resta? Estar apaixonada por você and that's all. Fecha a conta e passa a régua, amiga, porque aí é caixão e vela preta.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

há folhas no meu coração, é o tempo.

E o tempo se rói com inveja de mim, me vigia querendo aprender como eu morro de amor pra tentar reviver. No fundo, é uma eterna criança que não soube amadurecer; eu posso, ele não vai poder me esquecer.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

coincidência

No dia seguinte, ela olhava o teto com a enorme satisfação de quem atingiu vôos altos. Não reparou naquela pequena falha no canto da parede, nem nas teias finas onde aranhas preparavam habilidosamente suas presas para o abate final. Hoje não. Sentia a alma povoada de espíritos novos e estranhos e isso era coisa fresca, coisa de nunca. Sorriu borda de boca. Meu Deus, será que isso foi mais um daqueles meus sonhos absurdos? Impossível: desta vez, eu me lembro de tudo. Tudinho. Virou a cabeça pro lado, desgrudou os cílios num abrir de olhos em dégradé, as cores perdendo a sua substância vivente. Eu já devia imaginar, aliás, sempre soube que ia ser assim. Já virou quase uma convenção, um acordo pré-estabelecido que se for violado, fica até feio. Mas por que não me sinto bem diante de tamanha previsibilidade? Eu sabia, sabia que ia ser assim. Mudar o rumo da história não é assim tão fácil, não tem motivo pra surpresa. Nem pra tristeza que aparece de intrusa no redemoinho das coisas. Ah não, ela não vai achar lugar aqui não. Acho que é porque sempre gostei de correr risco e esse foi mais um deles. O que faz com que eu não tenha o menor motivo de arrependimento. E eu não tenho. Mas não conseguia esquecer. As mãos, o perfume, os olhos de alegria insone, o gosto bom ficado em meus olhos e boca, os pedacinhos de palavra que eu fingia não entender só pra chegar mais perto dos sussurros dele. Até rio das minhas próprias artimanhas. Toda mulher faz suas trelinhas de vez em quando, senão deixa de ser. E toda ela sabe botar o homem aonde quer, doido por um bocadinho da mulher que sabe amar como ela só. Eu devia estar feliz, afinal consegui o que queria, como sempre. Essa história de estar sempre querendo mais às vezes cansa. Preciso aprender a sentir as coisas além da pele, direto na carne, ou melhor, no osso e entender o que elas realmente são, senão estou condenada à insatisfação eterna por uma insaciabilidade idiota.

Que horas já são, meu Deus? Nem precisou repetir a pergunta. Dez horas. Eram seis quando ela acordou com gosto de despertar na boca, e viu ali, ao seu lado, fios voando no bailar do vento vindo na tomada. Fios não dos seus cabelos cor de bolo de chocolate; fios de outra raiz, outro terreno. Que ela (quase) desconhecia. As sobrancelhonas deitando-se por cima dos olhos de faísca ligeira, o nariz quina de estátua, o queixo cheio, viril; tudo ia se revestindo da verdade e da confusão das lembranças. Quanto mais embaralhada a lembrança chega à linha de frente dos pensamentos, mais ela significou alguma coisa lá por dentro da caixinha de memórias. Tossiu um sorriso de memória e puxou o fio do ventilador num impulso: pára de me encher, desgraça! Que ódio! Com uma sede de garganta quase colada do outro lado, procurou os chinelos para ir em busca de água e viu, preso na porta do banheiro, um papelzinho rasgado à mão, que ela pegou e abriu com um franzido aproximado de sobrancelhas:

Desci pra comprar café.

Café? A essa hora? Será que ele é acostumado a tomar café logo depois de acordar? Ou será simplesmente que ele estava com fome e não quis me acordar? Mas café não mata a fome de ninguém. Tudo bem que pode ser o café da manhã inteiro, mas por que ele não me esperou? Pensando bem, é até bom: pode ser que traga café na cama pra mim. Ótimo. Ou não. Talvez ele não seja tão perfeito como eu penso e seja só simplesmente igual aos outros, que descem pela escada feito fugitivos, como que fugindo não da polícia ou do marido traído, e, sim, da pior coisa na vida de um homem: explicação. Palavras emboladas fazendo um ninho de frases secas e tentativas em vão de qualquer coisa. O homem não foi feito pra isso. É sempre assim: eles fugindo, e eu correndo atrás. Não deles, mas das explicações que eles esquecem de me atirar ao sair. E até que sou boa nesse ponto, criativa. Ninguém é capaz de se fazer acreditar em si como eu em mim: todas as minhas mentiras tornam-se minhas verdades. Como? Assim: forjo um soro da verdade que pensa em tudo, imagina as desculpas mais plausíveis e crê naquilo até a morte. E é assim que vivo: brincando com a verdade e guardando a mentira junto com as bonecas velhas. É: pode ser que seja só vontade de tomar de café. Ah! Será que ele não esqueceu algo? Não existe melhor desculpa pra voltar à casa de alguém do que esquecer alguma coisa lá. Não, acho que não. Ele só veio com a roupa do corpo e as flores. Meu Deus, as flores. A essa altura, já devem estar murchas. Que coincidência.

domingo, 29 de junho de 2008

toda vez que toca o telefone eu penso que é você

Toda vez que toca o telefone eu penso que é você, toda noite de insônia eu penso em te escrever pra dizer que teu silêncio me agride e não me agrada ser um calendário do ano passado, pra dizer que teu crime me cansa e não compensa entrar na dança depois que a música parou. Parou.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Parte I

- Tudo o que eu sempre soube foi fugir. De meu pai, da venda, de você. Desde que eu era menina e nem podia pensar em tu. Mas pensava. Pensava justamente porque era uma fuga do que meu pai tinha planejado pra mim. Eu sei que não devia fazer isso e que vou me arrepender depois, mas foi só isso que eu aprendi na vida. Ir embora no meio da noite como uma criminosa que, no fim das contas, acabo sendo. Vou pra longe, outros altares.
- Ah, não vai não. Eu amo você e o seu lugar é aqui: no meu barco, no balanço da maré estando ela mansa ou braba. Do grão dessa areia fina até aquela linha que divide o lado de lá, somos nós dois, é tudo meu e teu. Tu já esquecesse que aceitasse quando eu te ofereci isso tudinho? Deixa de doidice que eu boto esse mundo de cabeça pra baixo e cavo um buraco tão fundo que nem Deus nem o diabo acham a gente. Fico na tua frente, você se abaixa, ninguém vê nem nunca mais sabe de nós. Só o Zé Peixe, aquele ali é homem bom, mais fiel que ele não tem. Bota aquele teu vestido branco e vem comigo que eu faço do mar a única testemunha da união da gente. Por que tu tá chorando, Nina?
- Porque eu tou com medo. A gente sempre tem medo do que não conhece. Uma vez, minha mãe me contou que quando eu era criança, eu tinha muita dificuldade de ler e escrever. Quando ela me colocou na escola, eu não queria ir, esperneava, chegava em casa todo dia chorando e dizia que não entendia as letras. Nunca fui boa com essa história de palavra. Em compensação, com sete meses eu já batia as perninhas querendo andar. Hoje em dia, eu cresci e já não ando mais: corro. Você teve que apressar o passo pra chegar até mim. Certeza de nunca parar, sempre mexendo as pernas. Essa é a única certeza que eu tenho na vida...
- E a única que eu tenho é você. Eu te amo!
- Deixa de coisa, nêgo, você sabe que eu também te amo e é justamente por isso que eu não posso te trair desse jeito. Me deixar pra trás pra ficar contigo é te trair porque não vou ser eu do teu lado. Vai ser outra e aí você também vai estar me traindo. Te amo demais pra ficar contigo pela metade. Se eu entrar nesse teu barco, no primeiro porto em que a gente parar, eu vou querer correr e tu vai ter que ir atrás de mim. Feito gato e rato ao invés de vela e vento. Você acha que isso tá direito?
- Eu prefiro ter uma linha da tua mão que seja do que não ter nada.
- Indo embora sozinha, tu vai me ter pra sempre. Toda. Indo contigo, nós dois vamos acabar nos partindo em pedaços e um com raiva do outro. Não vai funcionar! Vai, prepara teu barco e vai embora amanhã cedo como o combinado. Vai que eu vou pro outro lado, o meu lado. Vai.
- Amanhã, às 5h30, eu vou estar te esperando lá no cais. Foi por isso que eu sempre fiz questão de você saber exatamente de onde a gente ia partir e saber a hora também. Porque eu sabia que isso ia acontecer. Tenho tanta certeza de que vou ver teu colar de São Jorge e teu esmalte vermelho cruzando a linha entre o mar e o cais quanto eu tive de que me apaixonei por tu naquele dia do balanço: sem fim e sem volta. E eu não te culpo por ter medo, coragem sem medo não existe e vice-versa. Tou te esperando e sempre vou estar. Tu sabe disso, preta.
- Não, Chico, eu não posso fazer isso. Eu não vou contigo!
- Shh, não fala mais nada. Vai dormir e descansar porque amanhã a viagem vai ser longa. Tchau, até amanhã, meu amor.
- Chico, pare de agir como se nada tivesse acontecendo! Você tem noção do que eu tou lhe dizendo?
- Eu tou entendendo tudo, mas não tou com medo. Sabe por quê? Porque o amor da gente é cria de Iansã, rainha do vento, e foi ela quem que te derrubou do balanço em cima de mim com o mesmo vento que levantou tua saia tantas outras vezes, me botando doido de ciúme dos outros meninos. Foi o mesmo vento que carregou a areia que eu guardei naquele vidrinho pra tu. O mesmo que vai levar a gente pra onde a gente quiser. O mesmo que tá empurrando teus cabelos pra minha frente e vai te trazer amanhã. Eu sei que vai.
- Chico...
- Vai pra casa, minha flor, e vem amanhã correndo como tu sempre faz. Vem.

Parte II

- X-

No dia seguinte, Nina sentiu o sol perturbando-lhe o sono. 5h, dizia o relógio.

- Vai sair, minha filha?
- Vou, painho.
- Vai pra onde?
- Sair.
- E tu volta pro almoço?
- Se eu não voltar, o senhor come o que sobrar por mim?
- Você sabe que comer qualquer coisa que tua mãe bota o dedo nunca foi sacrifício pra mim. Agora vem cá, dá um beijo no teu velho. Eu sei o que tu vai fazer hoje e sei também que isso tá na tua cabeça já faz um tempo. Eu só quero que tu faça o que achar mais certo e te deixar mais feliz. Fique sabendo que pode voltar a qualquer hora pra casa, vai ter sempre aquele almoço que tu gosta te esperando.
- Brigada, pai. Eu mando notícias.
- Manda? De onde?
- Isso é o que eu vou descobrir agora.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Da série Lavando a alma II

Quem sabe um dia você se cansa disso tudo, volta e sossega num canto dos muitos cantos que guardei pra você. Eu vou esperar porque sempre estive esperando, e é assim só. Nunca me cansei da espera, apesar da exaustão que às vezes me assalta o ânimo, de repente. Me vem nas tardes um cheiro que me lembra a sua casa, um riso que me lembra o seu, alguma coisa de outra coisa ou outro alguém que invariavelmente me remete a algo que só há em você. É insuportável, por um segundo ou dois. Depois não sei.
É tanta coisa junta, baby. É tanto beco sem saída, túnel de luz queimada, gente sem juízo. Tanto desabafo que quero desabafar mas guardo. Tanta orelha sua que eu quero mas você não está. Tem muito vazio pra preencher, não dá pé.
Figuro no pesadelo de uma criança, penso, onde há lobos uivando loucos à espreita, na beira da estrada. Ando tão sem defesas, na estrada. Na curva da sua boca há um abismo, eu lembro. O último talhar do escultor, a curva do seu lábio inferior, como uma provocação do gênio. Não nasci pra resistir a isso, nasci com desespero. Você me provoca uma loucura de náufrago, e eu à deriva não sei remar, então desmaio a alma e deixo o coração batendo. Sozinho, doido, bêbado, vadio, diabo, vazio, vazado, todo carcomido. No meio de tanta gente, tão cansado, tem vezes que é pior que morrer. Quem sabe um dia eu nasça de novo, num parto de outro.



do blog http://www.eunaoseitrigonometria.blogspot.com/


ai ai, nem se tivesse sido eu que tivesse escrito.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Horóscopo Comediante

Sol na casa 7, lua na casa 11

11/06 (ontem) às 14h51 a 14/06 às 7h53


O período que vai de 11/06 (ontem) às 14h51 a 14/06 às 7h53 está associado a um sentimento de amizade que beneficia largamente sua vida amorosa, Amanda. Amigos poderão beneficiar sua vida afetiva, ou te apresentar a alguém especial, ou você poderá também se divertir com os amigos do ser amado. De algum modo meio mágico, você se perceberá mais sensível em relação às necessidades alheias, e se ocupará de tentar preencher tais desejos, pois o trânsito do Sol pela Casa 7 lhe permite uma compreensão maior dos anseios dos outros. A Lua se encontra em harmonia ao Sol, e você estará se comunicando melhor com as pessoas a quem você ama: excelente momento para ter conversas esclarecedoras e chegar a pontos consensuais com pessoas que lhe interessem. A Lua na Casa 11 beneficia largamente planos futuros em comum com o ser amado.


Pode rir agora????

segunda-feira, 9 de junho de 2008

não acredito em nada não, mas não duvido da fé.

Eu não acredito naquelas mensagens que vêm dentro do biscoitinho do restaurante chinês, mas acredito na sorte de hoje que o orkut me diz.

Eu não acredito em fantasma, mas não levanto depois de ter apagado a luz porque certamente o monstro debaixo da cama me puxaria pelas canelas.

Eu não acredito em espírito, mas não tem que me faça dormir sozinha no escuro total.

Eu não acredito nas liquidações de fim de ano da Osklen, porque até um broche igual ao que a minha prima filha de vereador tem de lá é mais caro do que a minha calça, bolsa e vestido da Renner em qualquer época do ano.

Eu não acredito em amor à primeira vista. Mas caí direitinho no conto do vigário.

Eu não acredito que o avião não conte com nenhuma ajudinha sobrenatural pra voar, mas se me perguntarem quem o inventou, eu vou dizer sem nem piscar: Santos Dumont!

Eu não acredito em uma Primeira Vez realmente boa. Sério. Sem argumentações.

Eu não acredito no Jornal Nacional. Nem na Folha de Pernambuco. Nem na espontaneidade das entrevistas de Marília Gabriela. Mas se me perguntarem, ser jornalista é, antes de tudo, passar a informação com o máximo de eficácia sem jamais faltar com a verdade.

Eu não acredito que carboidratos me façam engordar. O que me faz engordar é o sorvete, chocolate, biscoito...

Eu não acredito que se uma borboleta bater asas na China, vai ter furacão aqui em Recife. Mas se os chineses puderem por favor tirar as baterias de suas borboletas, eu agradeço.

Eu não acredito na magia do futebol, mas torço pelas jogadas (e pernas) mágicas de Cristiano Ronaldo.

Eu não acredito que Newton elaborou toda a sua teoria a partir da queda de uma maçã, mas vivo pensando no que eu poderia fazer se visse cair uma jaca...

Eu não acredito que haja diferença de fato entre o remédio normal e o genérico, mas só me sinto curada quando tomo o original.

Eu não acredito que eu não acredito em tanta coisa, mas acabo acreditando em quase tudo!

domingo, 8 de junho de 2008

verborragia

Por enquanto vou vivendo, fazendo a Maria Moura aqui e acolá, enfrentando a morte, te inventando nas esquinas, chamando teu nome bêbada pelos inferninhos do Recife, te contando pra todo mundo, cansando os ouvidos das meninas com essa paixão que vai-e-volta que nem ioiô de menino... até... até o veneno sair. Até você parar de borrar o lápis preto do meu olho, de roubar meu sono, de fazer furos no meu coração pra fazer escoar sangue pelos buraquinhos que nem canoa furada, de ser tão egoísta e pegar meus pensamentos todos pra você. Até você parar de escrever seu nome nos outdoors e calçadas da cidade. Até tua tesoura que faz coração de papel num piscar de olhos ficar cega. Até eu ter coragem de entrar no mar pra ele lavar de vez tuas marcas da minha pele. Ou tomar um banho de pinho sol pra desinfetar os micróbios que você deixou em mim e sal grosso pra tirar tua uruca. Até eu esquecer tua imagem ou, no mínimo, parar de lembrar dela o tempo todo. Até eu conseguir cuspir a última gota da saliva que você deixou na minha boca. Até eu parar de me arrepender sei lá de quê. Nisso tudo, eu só queria voltar atrás e parar de me arrepender exatamente de não ter te dito uma coisa naquele dia, o último dia, a véspera das cinzas: eu gosto de você.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

2 dias em Paris

"It always fascinated me how people go from loving you madly to nothing at all, nothing. It hurts so much. When I feel someone is going to leave me, I have a tendency to break up first before I get to hear the whole thing. Here it is. One more, one less. Another wasted love story. I really love this one. When I think that it's over, that I'll never see him again like this... well yes, I'll bump into him, we'll meet our new boyfriend and girlfriend, act as if we had never been together, then we'll slowly think of each other less and less until we forget each other completely. Almost. Always the same for me. Break up, break down. Drunk up, fool around. Meet one guy, then another, fuck around. Forget the one and only. Then after a few months of total emptiness start again to look for true love, desperately look everywhere and after two years of loneliness meet a new love and swear it is the one, until that one is gone as well. There's a moment in life where you can't recover anymore from another break-up. And even if this person bugs you sixty percent of the time: well, you still can’t live without him. And even if he wakes you up every day by sneezing right in your face: well, you love his sneezes more than anyone else's kisses." (Marion, em 2 Dias em Paris)


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Em homenagem aos nossos queridos (ou não) cavalos batizados

- Já te disseram que tu é a mulher mais bonita do mundo?!
- Não... (estrelinhas caem do céu, toca uma música de boyz II men, a colega quase chora)
- Nem vão dizer.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Vai botar que cor, querida?

Alright, it’s official: esmalte, pra ser bonito, tem que ter nome cafuçu. Se algum dia uma manicure chegar pra mim dizendo que um esmalte se chama Mutualismo ou Condescendência, eu saio correndo dela. Juro que saio. Dia desses, no salão do Hiper, eu tava lendo a revista Quem, pra saber Quem Faz ou Quem Acontece e balançando a perna no meu gesto típico de impaciência, quando a moça que tava arrancando as carnes em volta do meu dedo me chama de volta ao mundo e diz “Vai botar que cor, querida?” Essa pergunta me deixou meio confusa, i have to say. No tempo em que eu fazia unha com Jau, que é a manicure de Mainha há 25 anos, as opções eram simples: Paris, Renda, La Boheme, Astral, Gabriela e Black. Ah, é claro que tinha um ou outro diferente tipo Dafne ou Licor, mas nada se compara com o que se vê hoje em dia. Pintar a unha de vermelho não é somente colocar um esmalte qualquer e ficar com unhas de Jacutinga, como se dizia nos early 90’s não. Jamais. Se você chegar pra qualquer amiga sua e dizer “Coloquei vermelho”, ela vai dizer sem nem piscar “Qual? Pitanga? Tomate? Desejo?” Confesso que não sei o que é pior: se render ao pomar e à quarta é feira do Carrefour e colocar Pitanga, Tomate, Framboesa ou Maçã do amor ou entrar no clima dos pecados da carne e colocar Volúpia, Malícia, Sexy ou ainda, fazendo o Jorge Amado, Deixa Beijar (isso não parece saído de uma fala de Gabriela – Cravo e Canela?)

Ai ai, e ainda tem os clichês txípicos do gênero néam? Os esmaltes escuros levam os nomes mais, digamos assim, safados porque remetem a uma mulher mais voluptuosa, ousada e moderna (depois de tanto ler coluna social, algumas coisas ficam martelando na sua cabeça). Já os esmaltes claros, rosinhas e transparentes têm nomes mais “etéreos”, dramáticos in a segunda geração romântica way, uma coisa meio nuvens, virgens e ninfas. Por sinal, eu já vi um esmalte chamado Ninfa – lilás, bem clarinho, of course – e tenho quase certeza de que já vi um chamado Nuvem. E tem os beeeeem clássicos né? Fada, Princesa, Angélica, Estrela do Mar... eu poderia listar um bocado, mas já tá ficando tarde e eu já cansei dessa ironia de ver as minhas unhas já descascando apertando o teclado do computador e eu escrevendo sobre esmaltes!

Ah, ia esquecendo:

- Tem aquele esmalte da Risque, Pink Fluor, moça?
- Tem.
- É esse mesmo que eu vou colocar.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Do you ever think about the future?

- Tu pensa no futuro?
-
Penso, claro.
- O que tu vê?
- O que tu vê?
- Vai, po, falando sério.
- Eu nunca falo sério.
- ¬¬
- Vejo o futuro, ué.
- E no futuro, tu vai voltar lá daquelas lonjuras pra mim?
- Tu vai me esperar?
- Vou.
- E quantos tu vai agarrar antes de mim?
- Ah, vários.
- Melhor assim pq eu não vou perder nada lá, qualquer uma que passar eu já tou agarrando! Não quero nem saber se é brasileira, angolana, grega, japonesa...
- Eu bem sei disso, seu danado!
- E por que tu não vai passar o natal comigo?
- Ah, meu lindo, eu não posso... você sabe que se fosse por mim, eu passaria as férias de verão aqui/inverno lá contigo, mas as coisas são complicadas aqui...
- Daqui pra lá tu desata esses nós, tu sempre consegue o que quer.
- É?
- É. Mas por que me perguntasse sobre isso agora?
- Porque eu queria saber o que tu via no futuro.
- Eu realmente não sei. E tu, vê o quê?
- Tu.
- Quê?
- Eu vejo tu.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Da série "Lavando a alma" I

Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que está tudo bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem.


Caio Fernando Abreu em Pedras de Calcutá.



Mas o corpo cicatriza. Basta parar de cutucar. É, alguma coisa você tem que aprender com as adversidades, alguma coisa de realmente construtiva, além do fato de que você aprende com elas. Eu, pelo menos, penso que aprendi.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Fala, Steve!

I was cryin' when I met you
Now I'm tryin to forget you
Your love is sweet misery
I was cryin' just to get you
Now I'm dyin' 'cause I let you
Do what you do down on me


às vezes, outras pessoas que nem conhecem a gente falam muito melhor que nós mesmos... venho há um tempão tentando escrever sobre certas coisas, algumas coisas bastante inconvenientes por sinal, mas ouvindo essa música um dia desses percebi que se estabeleceu um processo de identificação imediata com a minha pessoa! Sendo assim, vou deixar o colega Steve Tyler falar por mim hoje, depois eu volto a escrever by myself, prometo!


by the way, tou pensando seriamente em fazer a Alicia Silverstone nesse clipe, ficar loucona, namorar com esse grace e ainda dar um chute em Josh Holloway quando ele nem sonhava com a ilha de Lost, gente!
Alguma oposição?



xoxo, babies.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Não sei não, assim você acaba me conquistando

http://media.miamiherald.com/smedia/2007/09/14/10/126-pushingdaisies.embedded.prod_affiliate.56.JPG


Todo mundo fala aos quatro ventos sobre as maravilhas e coisas lindas da tecnologia. Sim, eu concordo com tudo isso, ninguém tem a audácia de afirmar o contrário. Mas o que fazer quando a tecnologia torna você dependente e, pior, deixa você apaixonada por criaturas inventadas e que você nunca, nuquinha na vida vai ter a oportunidade de conhecer?!

a) cortar todos os canais de comunicação, deixar todos os pêlos do corpo crescerem e voltar ao paleolítico;
b) criar um mantra "não se apaixone de jeito nenhum, ele não é de verdade" para repetir o tempo todo durante a exibição do seu programa favorito;
c) se convencer de que o personagem é tão real que é tão cheio de defeitos quanto os outros mortais, inclusive aqueles malas que você teve o (des)prazer de conhecer;
d) nenhuma das alternativas anteriores, o que quer dizer fazer a Samara às avessas e pular de cabeça no bueiro das paixões platônicas, colar um pôster do dito-cujo na parede do quarto, colocá-lo no fundo de tela do computador ou criar um álbum no orkut pra postar a foto dele

a, b, c ou d?

Preciso mesmo dizer qual a minha resposta?

terça-feira, 15 de abril de 2008

bueiro.

I love you. In a really, really big pretend to like your taste in music, let you eat the last piece of cheesecake, hold a radio over my head outside your window, unfortunate way that makes me hate you, love you. So pick me. Choose me.


Agora chupa essa manga, vai.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

New boyfriend.

Já detectei a solução para os meus problemas amorosos, acadêmicos e sociais: o aeroporto. Se nesse momento eu tivesse que escolher um par perfeito, um dream boy, escolhia o aeroporto. Nada de Louis Garrel ou Seth Cohen, o bofe da temporada tem escrito na primeira linha da identidade Aeroporto Internacional dos Guararapes. Ele me recebe quando estou cansada e voltando pra casa a qualquer hora do dia ou da noite e me deixa na porta do avião quando eu preciso ir embora, o que é muito melhor do que deixar no portão de casa, diga-se de passagem.

E o melhor de tudo é quando o seu namorado te apóia em qualquer situação e não liga para o destino para onde ele está lhe levando: a Clínica de Rehab Social Queimados. E quando, mesmo com queimaduras de quinto graus all over my body, ele ainda me chama de linda, leva minha(s) mala(s) no bagageiro e me chama pelo alto-falante. Ai, ai. É disso que eu preciso, gente.

Bye bye, fellas, i’m going right now. Passar bem.

quarta-feira, 26 de março de 2008

- Tem uma coisa estranha no teu olho, parece uma folha, não sei direito.
- É uma flor. Já olhei no espelho.
- Deixa eu ver. É, é uma flor mesmo. Uma flor amarela que esconde o verde do teu olho...
- Não me olha assim porque eu fico constrangida, me sinto invadida, sei lá.
- Eu tou te invadindo agora?
- Tá sim. Todo olhar é uma forma de invasão.
- E essa invasão é boa ou ruim?
- É invasão consentida. Tou te deixando me invadir e você não vai poder ir muito longe porque você só entra até onde eu deixar.
- Como assim? Nunca vi invasão com cercas nem limites. Invasão é justamente quebra de fronteiras, derrubar as portas e sair olhando tudo.
- Mas essa tem fronteira e ela tá justamente na porta, logo na de entrada. A flor do meu olhar é venenosa. Se você tentar tocá-la, fica no meio do caminho, rendido. É minha barreira, meu escudo.
- É? Muitos já ficaram nessa flor?
- Ah, ela não sabe contar.
- Mas o resto do jardim sabe, especialmente o regador das plantas.
- Ah, o regador foi embora, pediu demissão há uns 6 meses...
- E até agora não apareceu outro?
- Não.
- Hm. E como ele fazia pra regar a flor sem ser atingido pelo veneno?
- Ah, não faço a menor idéia, mas posso dizer que foi ele quem fez a flor crescer e tomar quase o olho todo. Mas logo depois fez a flor ganhar veneno...
- Você sabia que quando a gente é mordido por uma cobra, a única forma de se curar é extraindo todo o veneno?
- O problema é quando o veneno já entrou na corrente sangüínea e tá no caule da flor, na raiz, na terra...
- Nesse caso a extração vai doer um pouco mais... mas tem que ser feita.
- De dor eu já cansei, já engavetei isso tudo... por favor, não vamos mais falar sobre isso.
- Mas...
- Me beija agora, sem mais conversa. Me beija, por favor.
- Mas, Alice... eu não posso ficar com você assim, você ficou muito abalada com alguma coisa que não eu não sei bem o que é... eu... eu consigo ver isso muito claramente... pare!
- Se você tem tanto apreço, carinho, ou seja lá o que for por mim quanto diz, faça o que eu estou dizendo: me beije agora!
- Não, eu não vou fazer isso! Pare!
- Se você não ficar comigo agora, não quero te ver mais.
- Se é assim, eu tou indo então.
- Como você pode não me querer? Logo você que me olha como uma raposa olha pra uma galinha gorda, logo você que me diz tantas coisas, que quer tanto estar comigo. Eu estou aqui, na sua frente, sem vergonha de nada, com a blusa na mão... você não pode me recusar desse jeito!
- Prefiro você vestida, com os olhos pretos de maquiagem e sendo sincera comigo e com você como sempre foi.

- Você não entende, não me entende, eu não quero mais falar! tou cansada de falar e não dizer nada porque a verdade é que estou fechada, envenenada, meu coração foi paralisado e ninguém vinha se incomodando com isso até você aparecer aqui e me encher de perguntas! Você acha que é assim, chegar olhando, invadindo tudo, fuçando todos os detalhes como se você soubesse de fato algo sobre eles?
- Tá bom. É isso mesmo que você quer de mim, né?
-É.
- Então tá.
Ela tirou o sutiã de bolinhas vermelhas e se deitou na cama me olhando fixamente, como que me amarrando aos olhos acesos, já meio borrados das lágrimas e cigarros anteriores. Ela tinha olhos lindos, como eu nunca tinha visto, olhos de flor amarela, mas que era flor de dentes pontiagudos e eu já tinha sido atingido, mordido na carne, bem na jugular. A minha vontade era tirar a roupa dela com fúria e esquecer tudo que tinha visto e ouvido nos últimos cinco minutos como uma criança esquece o que fazia dentro da barriga da mãe antes de nascer. Queria abraçá-la e dizer que ela podia se abrir pra mim, que eu jamais ia machucá-la, que nem sequer uma pétala daqueles olhos verdes eu ia arrancar.
- O que você tá esperando?
Me aproximei dela, segurei bem forte os cabelos loiros e a beijei com força, dente no dente, sangue pulsando na cabeça. Por um instante, não pensei em nada, só senti meu corpo inteiro envolvido por uma onda de um calor frio, frio calor, calma nervosa, nervosa calma enquanto deitava ela na cama e a segurava junto ao meu corpo.
Então, desenrolei meus braços da cintura dela, dei uns passos pra trás, peguei minha carteira que estava ao lado da televisão e bati bruscamente a porta do quarto. Apertei a setinha do elevador pra subir, mas eu queria mesmo era descer, ir logo pro inferno que eu sabia que estava indo a partir daquele momento. Não foi preciso nem encostar a cabeça na porta pra ouvir o choro dela que eu sabia estar guardado há muito tempo feito lembrança de festa de 15 anos. O apito do elevador me convidou pra entrar e eu fui. Pra onde? Não faço a menor idéia.



sábado, 15 de março de 2008

Instituição Carro I

- Carol, quando você parar no sinal, tire sempre o pé da embreagem.
- Por que, pai?
- Eita, meu pai sempre diz isso!
- O meu também!
- Painho diz que é porque dá não-sei-quê no disco do platô e toda vez que ele tenta me explicar o que é platô, eu já tou mais perdida do que imigrante na fronteira dos EUA!

(Essa é a parte em que tio Zezinho se prontifica a esmiuçar em detalhes a biografia, as paixões e até mesmo o futuro do platô, no entanto eu, mais uma vez, não tou prestando atenção...)


15 MINUTES LATER...


- Mas, ô friends, eu juro que eu queria saber quem é esse tal de Platô...
- Eu também, Lóu... Acho que é um homem aí, desses da vida...
- Olhe, minha gente, o que eu sei dele é que ele é igual a todos os homens: odeia ser pressionado!
- Agora tudo faz sentido!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Next on depois das dez...

E se eu não agüentar, paciência; se o sangue pisado aqui dentro me matar envenenada - pois bem, eu morro. Todo mundo morre, afinal. Mas quero morrer na minha grandeza.

Faz a Maria Moura, faz.

Opening Sequence.

ok, eu sei que relutei, falei que não ia fazer isso daqui porque não tenho muito tempo nem paciência e que não dá pra ter um blog, diário eletrônico ou whatever desse jeito. Mas, em tempos de visibilidade mode ON e aberturas de coração até pro armário do escritório, qualquer iniciativa de comunicação já dá a largada com três pontos na pesquisa do Ibope. Vou logo dizendo não sou organizada, não escuto o cd na ordem certa nem escrevo todo dia, mas isso é coisa pra se perceber enquanto for me lendo do lado de fora - minhas palavras - e do lado de cá: eu nas minhas palavras. see u later, folks!


xoxo.